Gostosa, coerente, movimentada e parecendo uma grande família – o que é muito bom – a Passa Disco está de mudança. Deixa o Shopping Sítio Trindade, na Estrada do Encanamento, no Parnamirim, onde funcionou por treze anos. E muda-se para a Galeria Hora Center, no Bairro do Espinheiro, onde faz inauguração na próxima terça-feira (5). A proposta, no entanto, permanece a mesma, com venda de títulos só de MPB. Ah, e também de MPP. Entenda-se por MPP, Música Popular Pernambucana. O novo espaço é três vezes maior do que o atual, e por esse motivo Fábio Cabral de Melo vai comercializar, também, peças artesanais e plantas. As plantas, aliás, são uma paixão do comerciante e produtor cultural que, até 2008, conciliava o trabalho da loja com o de paisagismo e a jardinagem. Naquele ano, fechou sua empresa Natureza – nome super sugestivo – e decidiu dedicar-se só à área musical.
Para falar a verdade, era a Passa Disco que movimentava a frequência daquele Shopping, que nunca foi mesmo muito efervescente. Ao longo do período, Fábio promoveu na Passa Disco cerca de 200 grandes eventos, entre lançamentos de discos, livros, feira de vinil, pocket shows. O que registrou maior movimento foi o lançamento de The Bridge, kit de CD e DVD de Lenine. Foi gente que não acabava mais, comprando o kit e ganhando autógrafo, claro. Além de só vender MPB e MPP, Fábio faz, também, produção de discos, dedicados aos sons e valores de nossa terra. Já são três edições de Pernambuco Cantando para o Mundo (2006, 2008 e 2013), duas de Pernambuco Frevando para o Mundo (2012, 2014) e Pernambuco Forrozando para o Mundo (2012,205). Um detalhe: só o primeiro da coletânea Pernambuco Cantando para o Mundo teve patrocínio. A Chesf, no caso.
Ao invés de passar o pires ou esperar verbas oficiais para os próximos trabalhos, Fábio aproveitou o dinheiro da venda do primeiro CD, para financiar o segundo. E assim, sucessivamente, o que não deixa de ser um exercício quixotesco, nesses tempos da prática tão comum de financiamento público para iniciativas “culturais” no Brasil, algumas bem polêmicas. Nas séries, ele conseguiu reunir artistas como Claudionor Germano, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Spok Frevo Orquestra, Orquestra Popular da Bomba do Hemetério (do Maestro Forró), Dominguinhos, Chico Bezerra, entre outros. Além das coletâneas, ele lançou pelo Selo Passa Disco CDs de Zé da Flauta, Acioly Neto e Projeto Sal.
Foram treze anos de serviços prestados à nossa cultura, que agora mudam apenas de lugar. Com certeza, a Passa Disco do Espinheiro vai continuar um celeiro de histórias, algumas engraçadas, que normalmente Fábio relata nas redes sociais. Como a do cliente que pediu “Um disco do MPB 3”, e Fábio lhe mostrou um do MPB 4. “Mas esse só tem doze músicas, o do meu filho tem mais de cem”, disse o cliente. Aí, Fábio descobriu que ele queria era um MP3. De outra, um adolescente conversava ao celular com um amiga, afirmando que na Passa Disco “só tem porcaria”. Conversa encerrada, o garoto pediu um CD da funkeira Ludmila. Mas Fábio respondeu: “Não tenho aqui, porque só vendo porcaria”. Fique ligado. A festa de inauguração é terça, às 19h, com direito a Som da Rural, homenagem a Claudionor Germano e Capiba (póstuma), e presença de cantores da terra interpretando frevos.
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Fábio: entre a Passa Disco e a natureza
Serviço:
Inauguração da Passa Disco
Quando: dia 5, terça-feira
Horário: 19h
Atrações: Som da Rural, Cláudio Almeida (violão)
Onde: Galeria Hora Center (Rua da Hora, 345, Espinheiro)