“Parem de derrubar árvores” tem final feliz em Olinda: o “véu-de-noiva”

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A luta do #OxeRecife contra o arboricídio e a motosserra insana tem rendido algumas situações, digamos…. um pouco inusitadas. Mas também encontramos bonitos exemplos de cuidados com a natureza urbana. Sábado estou em casa, quando o telefone toca. Do outro lado da linha, uma até então desconhecida, pede socorro para não deixar a árvore da calçada da casa dela tombar. “Estão requalificando as calçadas e uma das árvores está quase tombando, precisa de sustentação”. Indico o 156, da Emlurb, a única alternativa oficial que me veio à memória. Mas, curiosa. Retorno a ligação, pedindo detalhes. O problema não era no Recife. Mas em Olinda. Ou seja, Emlurb, nada a ver, já que essa autarquia funciona apenas na nossa cidade.

Do outro lado da linha,  Márvia Oliveira explicava, desesperada. “Moro na Avenida Presidente Kennedy e minha calçada é a única totalmente arborizada da via”. E lamentava: “O problema é que hoje é sábado, e não tenho a quem apelar, pois os homens da obra moram longe e não estão aqui hoje. Ela queria um socorro, para manter a árvore de pé, alguém que conseguisse recolocá-la em seu devido lugar. A casa de Márvia fica na esquina com a Rua Maria Sodré, ponto marcado por muitos acidentes de trânsito, um dos quais matou o seu pai. Para proteger a residência, a família colocou barras de ferro na calçada.

Para suavizar a paisagem, ela plantou  na calçada vários pés de Plumeria pudica, planta nativa do Panamá e da Venezuela, porém muito bem adaptada no Brasil, onde floresce o ano inteiro, desde que esteja plantada em área de sol. No Recife, é conhecida também como jasmim-do-caribe ou véu-de-noiva. A saga de Márvia é um caso clássico do exemplo que divide as pessoas  em dois tipos: os que amam e os que detestam a natureza. As plantas são uma das alegrias de Dona Laura, a mãe de Márvia, que tem 90 anos. Para  a idosa, elas são uma homenagem ao marido, que morreu atropelado na frente de casa quando tentava atravessar a Avenida. As duas se orgulham da calçada arborizada, a “única verde” da Presidente Kennedy, segundo destacam. No entanto, sempre passa quem, por puro vandalismo, tente destruir as plantas.

“Com as câmeras de segurança, já flagramos pessoas que mostram agir pelo simples prazer de destruir”, conta Márvia. E o flagrante, vocês podem observar no vídeo abaixo:

“Mas também já apareceu uma mulher, de carro, com  alguns homens, para arrancar galhos floridos. E foram muitos. Penso que era para decorar alguma festa de casamento com o véu-de -noiva”, diz ela, que já trabalhou com educação ambiental. Vejam o outro flagrante que conseguimos, com a ajuda das câmeras de segurança e da própria família. 

Neste domingo de sol morno, logo cedo, quando acordei e fui conferir as mensagens no WhatsApp descobri que a angústia de Márvia  tinha acabado. A história da árvore ameaçada de morrer por estar caindo, teve um final feliz. Ela conseguiu a ajuda de alguns homens do bairro que, finalmente, conseguiram recolocar de novo a árvore de pé.  A planta ganha escoras até que as obras da calçada, executadas pela Prefeitura de Olinda, sejam concluídas.  Valeu, então, o sacrifício.

Que o cuidado de Márvia sirva de exemplo para autoridades de outras cidades, inclusive o Recife,  capital nacional do arboricídio. E onde as árvores são derrubadas a troco de nada, quando poderiam ser preservadas. No Recife, árvores são destruídas  até para requalificação de calçadas (como ocorre na Estrada do Encanamento). E, pasmem, para a implantação de “áreas verdes”, como com o arboricídio praticado para a implantação do Parque das Graças.

Viva Márvia e Dona Laura, que amam as plantas. E que sabem o valor delas!

Abaixo, você confere outros links sobre o assunto, em Olinda e no Recife.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos e vídeos : Márvia Oliveira / Cortesia
Observação: A ave silvestre que aparece na foto com Márvia não é uma arara verdadeira, mas sim uma peça decorativa.

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