Estive na semana passada, em Salvador, onde também observei árvores decepadas. Não na mesma e escandalosa quantidade do Recife, onde as marcas do arboricídio aparecem em todas as esquinas, praças, jardins. Ao longo de uma caminhada pela Avenida Centenário – uma das principais daquela cidade – contei quinze tocos nos gramados que ficam aos lados da faixa de pedestre, no canteiro central.
Mas ao contrário do que ocorre na nossa cidade, ao lado dos “tamboretes” já havia mudas em crescimento, para compensar as árvores erradicadas ou que tenham tombado. Aqui no Recife, a informação oficial é que para cada árvore erradicada, duas são plantadas. Mas nem sempre, elas são encontradas. E eu que o diga, pois nas minhas caminhadas diárias acompanho, sempre, o suplício e falta de reposição de nossas tão silenciosas e benéficas irmãs.
O que não falta na nossa cidade, são canteiros com metralhas, lixo acumulado e até mesmo com o cadáver insepulto de muitas plantas. E em qualquer cidade onde chego, tenho o cuidado de observar se essa paisagem de árvores decepadas, tão marcante no Recife, acontece em outros locais. Até porque eu amo as árvores e a natureza. Em Salvador, encontrei sim, árvores decepadas, ao longo da Centenário. Mas em compensação, as mudas plantadas ao lado das guilhotinadas não são poucas. Variam em quantidades que vão de duas a seis e muito bem regadas, por sinal. Geralmente são fruteiras que vão render boa sombra aos passantes. Não vi nenhuma morrendo de sede, como é comum em nossa cidade. Alô, alô, Emlurb. Regar praças, parques, jardins públicos e canteiros como os da Avenida Agamenon Magalhães é preciso. Principalmente nos dias de calor.
Outra coisa que me chamou a atenção nessa gostosa viagem foi o verde dos gramados, apesar do verão escaldante de Salvador. No Recife, quando chega o verão, praças e parques ficam parecendo areais, porque não são devidamente regados nos meses quentes. E ficam de dar pena. Alguns nunca mais se recuperam, nem mesmo no inverno quando as chuvas recomeçam. Como pode ser observado em algumas praças até do Centro. Na Avenida Agamenon Magalhães, por exemplo, o gramado já se foi como calor. A gente só vê a cor do barro e, vivas, só as árvores maiores. Sem o gramado, a erosão nas margens do canal que passa na Agamenon, com certeza, será muito maior, com consequente assoreamento do seu leito e risco de alagamento no inverno. Esse gramado que vocês observam aí na foto, em Salvador, fica em área pública (Praia da Barra, um dos locais mais visitados de Salvador). Quando lembrei dos gramados dos parques e jardins do meu Recife, deu uma tristeza…
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
Estive com minha família recentemente em Salvador e pude constatar esse cuidado básico com o verde não apenas nas áreas turísticas, mas, também, em bairros mais afastados do centro por onde transitamos, como Paripe, Bonfim e Ribeira. À exceção das áreas onde há grande concentração de ambulantes, não se enxerga lixo pelas ruas soteropolitanas. As praças visitadas por nós contavam com banheiros químicos, embora a fedentina de urina – coisa que o Recife também sente bem – seja insuportável em alguns cantos de Salvador. Mas como diz o slogan da Prefeitura soteropolitana: “Salvador: A gente sente que é diferente!” Infelizmente, em relação a minha cidade o apropriado seria dizer: “Recife: A gente sente que está pior!”