Prometi a vocês que voltaria ao assunto, depois da Caminhada das Pontes, promovida pelo Grupo Caminhadas Domingueiras Olhe Pelo Recife no último final de semana. Mas ainda não o fiz, porque solicitei informações aos órgãos competentes a respeito das Pontes da Boa Vista e Seis de Março, esta mais conhecida como Ponte Velha, ao meu ver a mais detonada de todas que visitamos no último dia 2 de fevereiro.
Mas falar em detonado, não sei se alguém notou. Detonado está todo o verde que revestia as margens do Rio Capibaribe, nas ruas do Sol e da Aurora. A parte mais crítica fica no trecho da Aurora, entre as pontes Duarte Coelho e a Santa Isabel, por onde passamos no domingo. Cerca de 250 pessoas que participaram do passeio. Pasmem: não resta uma só árvore naquela calçada (foto acima). Do verde gramado que revestia margem em questão, só sobrou o barro seco. De umas poucas mudas que colocaram ali, ficaram apenas os gravetos. Uma vergonha. O problema é tão grave, que populares já estão até colocando placas no local onde deveriam haver canteiros floridos.
Sinceramente, fiquei muito triste com essa situação. Pois a margem da Rua da Aurora nunca foi tão árida, como no Recife 2020 da “emergência climática”, reconhecida pela própria Prefeitura. A extensão daquele canteiro já foi um trecho bonito, arborizado, que dava gosto de se ver. Realmente, o cuidado com as áreas verdes do Recife – incluindo as do centro – não parece ser o forte da atual gestão, uma das piores, quando o assunto é manutenção de praças, parques e jardins públicos. Pelo menos, a julgar pela realidade que gente vê nas ruas e pelas críticas sobre o assunto que chegam aqui no #OxeRecife. E elas não são poucas não. São muitíssimas!
Em setembro de 2017, reclamei aqui da retirada de um fícus que ficava na cabeceira da Ponte Santa Isabel. Era lindo, um verdadeiro colosso. Ele já fazia parte da paisagem do Recife e das memórias afetivas de sua população. Teve gente que chorou, quando a árvore foi derrubada. Houve muita gritaria, até que a Prefeitura fez a reposição com uma outra espécie, de raízes não tão agressivas quanto a do fícus que, segundo a Prefeitura, ameaçava a mureta do cais. Hoje, a nova árvore – ainda em fase de crescimento – responde pelo único verde daquele trecho da Rua da Aurora, uma das mais emblemáticas do Recife. E que, de jeito nenhum, merecia estar nessa terrível situação.
O pior é que esse descalabro com a vegetação do Recife começa a ser tão banalizado, que as pessoas já nem percebem. Está virando normal. Passamos com o grupo grande pela Aurora e ouvi um só comentário, sobre a aridez que tomou conta de uma das mais bonitas ruas do Recife. Mas uma das participantes do passeio, Maria Campos, desabafou. “Lamentável uma cena destas. Uma decoração grandiosa de carnaval, e não há dinheiro para botar um carro pipa para molhar a grama”. Molhar grama? Só vi isso acontecer uma vez, nos últimos quatro anos. Foi no Cemitério de Santo Amaro, perto do Dia de Finados, quando um caminhão passou molhando as plantinhas. Nos canteiros ao lado do rio Capibaribe ou mesmo na Avenida Agamenon Magalhães, nem pensar…. E o resultado é o que vocês estão vendo.
No mais, é a frase em pequeno cartaz, na margem do Capibaribe, que não deixa de ser um recado aos nossos gestores. É que de nada adianta declarar o Recife em “emergência climática”, tratando-se as áreas verdes como elas vêm sendo tratadas na capital. Vejam só o que diz a sábia e improvisada plaquinha , no meio do barro seco onde antes existia gramado. “Ame a natureza. E as árvores, os rios e as flores são os responsáveis por embelezar a cidade o ano inteiro”. Parece que só nossos gestores municipais não entendem isso.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife