“Parem de derrubar árvores”, no Jardim Botânico da Usina de Arte

#ParemDeDerrubarÁrvores. Em campanha aqui no #OxeRecife desde 2017, contra a derrubada indiscriminada de árvores  nas áreas urbanas, principalmente na capital pernambucana, estive no final de semana no Jardim Botânico da Usina de Arte, que fica no município de Água Preta, a 130 quilômetros do Recife. O Jardim Botânico funciona em terras da antiga Usina Santa Terezinha, cujo parque industrial  foi desativado em 1998.  Entre as 37 obras de arte que observei – principalmente as esculturas – uma logo me chamou a atenção: um tronco decepado no meio do impecável, verde e florido Jardim Botânico da Usina de Arte, empreendimento cultural que foi implantado em 33 hectares daquilo que um dia foi uma poderosa indústria açucareira.

Ao ver o “tronco”  guilhotinado, lembrei de imediato da imensa quantidade de vítimas da motosserra insana do Recife. Fotografei logo o que restou da “árvore”, como faço onde vejo qualquer uma que tenha sido degolada.  No entanto, ao me aproximar do tronco – que mede 1,25 m  de altura e tem diâmetro de 3,60 m – vi, felizmente, que não se tratava de uma vítima de arboricídio, mas sim de uma obra de arte, com a assinatura do artista paranaense Vanderlei Lopes. Ele costuma  “congelar” em bronze, situações, objetos e seres vivos  do cotidiano. Ou seja, a árvore reproduz o sacrifício imposto a uma outra com a qual ele conviveu nos tempos de menino. Esverdeado pela ação do tempo, o bronze à distância lembra um tronco  mutilado, sendo dominado pelo musgo.

Tronco degolado de uma árvore, na verdade, é uma escultura de bronze em protesto contra o arboricídio.

O nome da escultura em bronze é sugestivo: Arena. “Ao modelar e fundir em bronze o tronco de uma paineira que fez parte de sua infância, inserindo uma arena no centro da árvore serrada, o artista faz referência ao tempo e sua passagem, enquanto chama a atenção para as agressões à natureza e ao meio ambiente praticadas pelo homem”, explica a legenda ao lado da obra.  No corte, uma arena foi desenhada em círculos concêntricos, formando anéis que, na natureza, identificam a idade das árvores. Muito interessante que a arte sirva de protesto contra as atrocidades que se comete contra a natureza.

Quem não lembra dos quintais de nossa infância, repletos de mangueiras, jaqueiras, caramboleiras, jambeiros, mamoeiros, goiabeiras e pitangueiras? Quem nunca se beneficiou da sombra de uma árvore para os brinquedos infantis, nos tempos em que a cidade ainda era horizontal e antes de todo quintal se transformar em estacionamento de edifício? Quem não se recorda de plantas igualmente icônicas que sumiram da paisagem do Recife como as palmeiras imperiais do Pátio do Carmo (que eram antes bem mais), a amendoeira na calçada da Associação Comercial de Pernambuco (em frente ao Marco Zero) e o enorme fícus que ficava na esquina da Rua da Aurora com a Princesa Isabel, ali bem na cabeceira da ponte? Do jeito que a coisa vai, Vanderlei Lopes terá muito o que esculpir daqui para a frente.  O que conta de bom é que no Jardim Botânico da Usina de Arte – onde estivemos com o Grupo Andarapé Trilhas – a vítima de arboricídio era apenas a expressão de um protesto em favor da natureza. E esculpida não em madeira, mas em bronze.

Nos links abaixo, você confere outras vítimas de arboricídio não só no Recife, como em cidades da Região Metropolitana, do interior de Pernambuco e de outros estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Pará.

Leia também
Usina de Arte em Água Preta: Como sair da moagem de cana para a de cultura
Parem de derrubar árvores, em Moreno
Parem de derrubar árvores em 2021
Parem de derrubar árvores.  Brasil: Total devastador de matas derrubadas
Parem de derrubar árvores em Olinda
Parem de derrubar árvores (em Olinda 1)
Parem de derrubar árvores (em Olinda 2)
Parem de derrubar árvores (em Olinda 3). Cinco palmeiras substituem o fícus
“Parem de derrubar árvores” tem final feliz em Olinda: o véu-de- noiva
Parem de derrubar árvores: Motosserra insana destrói véus-de-noiva em Olinda
Parem de derrubar árvores  em Paulista. Arboricídio na Mata Atlântica
As matas de cimento em Paulista
Mata de pau-de-jangada destruída
Pau-de-jangada sobrevive na marra
Mata do Frio é devastada
Cadê a punição para os tubarões que devastam a Mata do Frio
Mais matas devastadas em Paulista
Devastação gera embargos em Paulista
Parem de derrubar árvores (em Camaragibe)
Parem de derrubar árvores (em Igarassu)
Parem de derrubar árvores (em Aldeia)
APA Aldeia Beberibe: Devastação em bioma em extinção
Parem de derrubar árvores (no Sertão)
Parem de derrubar árvores (na Av. Anita Garibaldi)
Parem de derrubar árvores (na Bahia)
Parem de derrubar árvores (no Pará)
Parem de derrubar árvores (em SP)
Parem de derrubar árvores (baobá degolado em Paquetá)
Parem de derrubar árvores (45)
Recife da paisagem mutilada

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

 

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.