Como vocês sabem, eu sou apaixonada pelas árvores. Desde criança, sempre gostei de admirar paisagens verdes, jardins floridos, matas perfumadas. Aliás, quem não gosta? E, confesso, fico muito triste com a situação do verde da nossa cidade, onde todos os dias aparece uma árvore degolada, o que sempre me faz pensar que o Recife é a capital nacional do arboricídio, onde a ação da motosserra insana parece ser mais ativa do que em outras metrópoles. As marcas da destruição estão em toda esquina. É, como diz uma amiga, a cada rua, “um novo clarão”.
O “clarão” tem a ver com a ausência da sombra de uma árvore que foi erradicada. Foi por ver tantos tocos nas ruas e clarões, que criei aqui no #OxeRecife a campanha #paremdederrubarárvores, que tem caráter permanente. Hoje nós estamos com um número redondo, completando a 450ª postagem sobre o triste inventário das árvores assassinadas da cidade. Ao todo, só aqui no #OxeRecife, nós computamos – desde o início da série – nada menos de 1.149 árvores suprimidas da paisagem. O que não é pouco não, pois essas são apenas as que encontro nas minhas caminhadas pela cidade. E nos outros bairros, por onde não costumo passar, qual seria a situação? Triste, pelo que se vê. Até porque a derrubada de árvores urbanas parece ter virado uma ação sem controle. Amanhã, quinta (30/1) completo outro número redondo: a marca do registro de 1.150 árvores assassinadas (lembro, são só as que encontro pelos meus caminhos, não é um número oficial).

O Recife se gaba de ganhar selos verdes, de ser reconhecido internacionalmente por suas ações em defesa da natureza, mas não é capaz – por exemplo – de me informar quantas árvores foram erradicadas nos últimos quatro anos, e quantas foram plantadas. Porque, só assim, a gente pode fazer um balanço do verde urbano da cidade. Quanto perdeu e quanto ganhou. Enfim, o saldo. Mas o assunto virou uma caixa preta desde a gestão anterior ao Prefeito João Campos. Já cobrei esses números várias vezes aos órgãos competentes. Mas não nos são fornecidos. Viraram, como já reclamei em postagens anteriores, uma verdadeira caixa preta.
A Secretaria de Meio Ambiente do Recife também nunca nos informa o índice de sobrevivência das mudas distribuídas pela cidade, pois mesmo com as novas técnicas de plantio, o que tenho visto são muitas mudas mortas. É outro número a se considerar, pois plantio de árvores não pode ser tratado como uma simples estatística. Pode estar no papel, mas não na natureza. Dêm, por exemplo, uma circuladinha na Avenida Recife. Tem mais muda morta do que viva, ou mais viva do que morta? Como caminho quase todos os dias, tenho certeza absoluta, também, que grande parte das árvores erradicadas não ganharam reposição. Essa árvore da foto acima ficava no Poço da Panela, na Zona Norte do Recife, onde os arboricídios têm provocado indignação na comunidade. Faço parte de vários grupos de moradores do Poço – embora não resida lá – e a reclamação de degolas é constante, naquele que parece ser um bairro ainda bucólico.
Algumas das árvores são eliminadas por doença. Outras, por podas exageradas. E há aquelas que são eliminadas para ceder espaço à especulação imobiliária. Porém há outras, seculares, que desaparecem em obras públicas, como aconteceu na implantação do Parque Jardim do Poço que, sinceramente, tem muito cimento para meu gosto e para alguns arquitetos e urbanistas por mim ouvidos. É verdade que o Parque é muito melhor do que um supermercado ou um lojão de materiais de construção, como pretendeu o empresariado, com aval da Prefeitura, na gestão passada. Mas bem que o Jardim do Poço podia ter sido planejado preservando-se as árvores belíssimas e seculares que havia ali. Teve gente que chorou, quando viu mangueiras seculares tombando à ação da motosserra insana.
Sim, sobraram algumas. Mas foram poucas. Nessa semana, caminhando por uma das mais icônicas ruas do Poço da Panela, a Real do Poço, me deparei, também, com essa situação da foto acima: mais uma vítima de arboricídio. “É uma tristeza que essa árvore tenha sido derrubada, pois estava sadia e nos dava muita sombra”, reclama Marcos Efigênio da Silva, 44, auxiliar de serviços gerais e flanelinha nas horas vagas. “Eu penso que essa árvore tinha pelo menos 40 anos, pois lembro dela desde quando era pequenininho”. E complementa: “Eu não sei de onde vem essa mania de se matar as árvores, que não fazem mal a ninguém, fico muito triste quando vejo isso por aqui”, diz. Ou seja, bem mais sábio do que certas ações oficiais que a gente vê por aí…
E eu, também fico triste com a devastação do verde urbano. Claro.
Nos links abaixo, você confere uma boa quantidade de perdas no Poço da Panela
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
Minha amiga que absurdo! Sua voz não vai ser em vão. Isso tem que chegar às autoridades. Não é possível tanto descaso. Parabéns pelo texto, pelo seu zelo com o Verde, o meio ambiente e com a nossa cidade.
Endosso totalmente a sua indignação com o arboricídio da nossa cidade.
Também me entristeço profundamente com a devastação do verde.
e ,mais ainda,com a inoperância da Emlurb no enfrentamento da questão.