Eram duas paineiras, lindas. Pareciam gêmeas. As raízes se misturavam, mas os troncos eram dois. Com mais de cem anos, chamavam a atenção de populares e até eram usadas como cenário para selfies. Durante muito tempo foram motivo de brigas acaloradas entre a população e os órgãos públicos. De outras, entre os próprios moradores do Edifício Príncipe de Orange, localizado na Rua Sebastião Alves, no Bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife. E em cujas calçadas as duas se erguiam, geminadas e imponentes.
Alguns moradores do condomínio achavam descomunal o par de árvores. E temiam acidentes que provocassem estragos ao prédio e risco aos moradores e pedestres. Outros, eram contra qualquer iniciativa que “podasse” a sua exuberância. Tombadas em 1988 pelo então IBDF (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, atual Ibama), as árvores resistiram a todas as polêmicas. Em 2018, a Emlurb enfrentou muita confusão, porque tentou podá-las. Moradores da Sebastião Alves foram contra, alegando que a autarquia faz “podas muito radicais” e disseram temer que elas fossem mutiladas, como ocorre com grande parte das árvores do Recife, que terminam morrendo após cortes exagerados, que são verdadeiras mutilações.
Também exigiam que as árvores da calçada do prédio localizado naquela via recebessem tratamento contra fungos, que começaram a atacá-las. Não conseguimos apurar que tipo de tratamento as plantas receberam. O fato é que mesmo parecendo eternas, as duas caíram este ano. Tomei um susto, quando vi as gigantes no chão. Na ocasião, documentei mas esqueci de fazer o registro na ocasião, pois são tantos os que chegam aqui no #OxeRecife, que a queda das paineiras quase passa em branco. Até que nesta semana, deletando fotos, encontrei a queda das gigantes, que são árvores nativas das matas do Brasil e Bolívia.
Lembro que ao vê-las no chão, pensei logo tratar-se de mais um caso de arboricídio, de ação da motosserra insana. Pois quando passei na rua, há mais ou menos um mês, os troncos já estavam esquartejados e prontos para a remoção. Havia fios derrubados, carros da Celpe e de operadoras de telefonia tentando reduzir os estragos. Sim. A queda pode até ter sido por conta de negligência do poder público, que não cuidou das árvores como deveria. Mas dessa vez a culpa não foi da motosserra insana não. Ela apareceu, mas quando as árvores já haviam tombado e necessitavam de remoção (em pedaços), para acabar com o nó que o acidente provocou no trânsito de bairros próximos, como Casa Amarela, Casa Forte, Parnamirim.
Todos os pedestres que passam no local, sentem a falta do par de árvores, que tanto embelezavam a Sebastião Alves. Eu, inclusive, senti um vazio no coração. Gostava de admirar a dupla, e uma amiga que mora no prédio já me relatava desde 2023, os prós e contras das árvores, entre os condôminos do Príncipe de Orange. Uns queriam a erradicação. Outros, lutavam pelo “patrimônio verde” que elas eram. Mas o fato é que as gigantes tombaram deixando marcas no muro do edifício que fica defronte do Príncipe de Orange, já que os troncos ficaram atravessados, fecharam a pista e atingiram os muros do prédio que fica do outro lado da rua.
Triste é quando se passa no local e percebe-se o buraco na parede e o clarão que elas deixaram. Era muito confortável passar na calçada, sob suas sombras. Fica, pois, um vazio na calçada e um ainda maior em nossos corações. Os moradores e passantes do quarteirão guardam memórias afetivas das árvores seculares. Esperamos que as plantas ganhem reposição, embora acreditemos que a espécie (por seu gigantismo) talvez não seja indicada para ficar vizinha a muros, edificações. As duas eram anteriores ao Príncipe de Orange e foram poupadas, durante a construção do espigão. E terminaram ponto de referência. Todo mundo citava o prédio “das duas paineiras”, quando queria indicar bar, farmácia ou outro estabelecimento próximo.
Abaixo, você confere perdas nos bairros da Tamarineira, Rosarinho e arredores
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife