“Mesmo nos dias de maior calor, San Sebastián conserva um certo ar de frescor matinal, e as folhas parecem nunca secar completamente. Parece sempre que as ruas acabam de ser regadas. Nos dias mais quentes, há sempre ruas frescas com sombra”. A frase é do escritor Ernest Hemingway (1899-1961), referindo-se à arborização daquela cidade espanhola, que ele costumava visitar, na segunda década do século passado. Que diria hoje o autor de O Sol Também Se Levanta, se fosse passear pelas ruas do Recife do século 21?
Com certeza, ele não falaria do “frescor matinal” nem diria que “nos dias mais quentes, há sempre ruas frescas com sombra”. Afinal, sombra de árvore é um direito cada dia menor para a população do Recife. Quem anda pelas calçadas sabe disso. Hoje, quando ia para a fisioterapia – devido ao pé avariado em via pública de asfalto irregular – me deparei com mais uma vítima de arboricídio. Ela fica na Rua Amaro Lafayette, no Parnamirim, bem pertinho da Estrada do Encanamento e da Rua da Harmonia.
O #OxeRecife lembra, aqui, dois outros escritores que se referem às árvores,em textos já citados na nossa campanha Parem de derrubar árvores. Enquanto Hemingway elogiava as ruas frescas da cidade espanhola, GilbertoFreyre (1900 – 1987), chamava a nossa capital de “Recife, cidade sem árvore”, já no século passado, em artigos publicados na imprensa do Recife. Já e Sthendal (1783-1842) externavam preocupação com podas e cortes absurdos das árvores na fictícia cidade de Verriéres, em O Vermelho e o Negro. Se já reclamavam dos exageros de corte naqueles tempos, imaginem o que diriam hoje, se reencarnassem, e visitassem o Recife.
A árvore do Parnamirim não tem mais serventia. Com seu tronco cortado e largo, ocupa a largura da calçada, dificultando passagem de pedestres. Se para ela não tem mais jeito, o tronco-tamborete já devia ter sido erradicado, para o plantio de outra árvore em seu lugar,quem sabe um flamboyanzinho, que não ocupa tanto espaço, já que a calçada não é larga. Porque o delicioso microclima provocado por uma árvore, transforma-se em mini ilha de calor, quando ela some da paisagem. Infelizmente, a situação das árvores de nossas calçadas, parques, jardins, praças é esta que vocês estão vendo na foto: falta de cuidado, arboricídio, motosserra insana. É só o que a gente encontra por aí. Deus me livre…
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife