Parem de derrubar árvores (169)

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Há seis anos trabalhando na calçada da Rua do Príncipe – onde vende balas, biscoitos e docinhos para manter a família – José Gomes é a imagem da desolação. É que a sombra da árvore frondosa que lhe dava conforto o dia inteiro não existe mais. A árvore foi guilhotinada há duas semanas, e os restos mortais permanecem lá, bem pertinho da esquina com a Rua Gervásio Pires, no bairro da Boa Vista.

A degola é bem recente. Tomei conhecimento no último final de semana, quando ia para o Bairro do Recife, me encontrar com o Grupo Caminhadas Domingueiras, que tinha um passeio a pé especial, comemorativo dos 482 anos do Recife. De repente, bati o olho nessa nova degola. Como estava atrasada e ia de TX, não parei para fazer a foto da mais recente vítima do arboricídio que toma conta da cidade. Hoje, dia útil, voltei lá. Encontrei o tronco guilhotinado e o ambulante sentindo-se totalmente desprotegido e triste.

José Gomes reclama do calor depois que a árvore da calçada onde trabalha foi vítima da motosserra insana

“Estou aqui apulso. Depois que mataram a árvore, o calor ficou insuportável”, diz ele. “Até as pessoas que esperam o ônibus, trocavam a sombra do abrigo pela da árvore, porque aqui era muito mais fresquinho”, completa. A parada fica a menos de dez metros de distância da planta. Ele conta que o “assassinato” ocorreu há quinze dias, quando um caminhão baú esbarrou na copa da árvore, ficando enganchado. “Primeiro veio o bombeiro, que cortou por cima. Depois, foi a vez da Emlurb, que derrubou o resto”, lamenta. “Penso que a árvore nem estava doente”.

Consciente e incomodado com tanto calor, José Gomes reclama. “Se tiraram, já era para ter botado outra no mesmo lugar”. E mostra o tronco imenso guilhotinado. Ele toma todo o canteiro da calçada sem que tenha sido removido, para ceder espaço para uma nova árvore. “Por que não colocam logo outra aqui”? – indaga. “Do jeito que ficou, todo mundo sofre”, reclama. E tira de dentro de sua carrocinha um pedaço papel , onde mostra o número do protocolo  (2188690) no 156 da Emlurb. Ele  diz que ligou pedindo reposição da árvore. Mas até agora… nada. E assim é o Recife. A cada dia, uma árvore a menos e um pouco de calor a mais. Está feia a situação. Só as guilhotinadas ou eliminadas que foram documentadas aqui no Blog, em 168 postagens, já somam 289. Grande parte ainda sem reposição.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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