“Pão e Letra” vira realidade: letramento para quem vive em situação de rua

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Anunciado em 2023 e, dois anos depois, finalmente saiu do papel o “Pão e Letra“, programa lançado nessa terça-feira pelo Prefeito João Campos. A ação, que segundo a Prefeitura é “pioneira no país”, é bem interessante, pois concede bolsas a pessoas em situação de rua, que queiram estudar. Entre os sem teto, o índice de analfabetismo chega a 22 por cento. Portanto, a ação é mais do que necessária. Os valores a serem pagos mensalmente variam de R$ 200 a R$ 600, dependendo da modalidade em que a pessoa se enquadrar.

O programa é promovido pela Secretaria de Assistência Social e Combate à Fome, em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Os valores a serem pagos visam garantir suporte financeiro para que os participantes possam permanecer no processo de escolarização e formação profissional. O lançamento contou com uma aula inaugural, realizada no Compaz Escritor Ariano Suassuna, que reuniu 30 inscritos na modalidade “Iniciante”. Durante a atividade, foram entregues kits  compostos por mochila, caderno, caneta, garrafa, boné e fardamento  para todos os alunos. O evento também teve falas da secretária Pâmela Alves; do coordenador estadual do Movimento Nacional da População de Rua, Jailson dos Santos; e do prefeito João Campos, que reforçou o compromisso da gestão com políticas de inclusão profissional. A primeira fase do programa recebe um investimento de cerca de R$ 306 mil. Disse João Campos:

“O Recife está fazendo algo inédito: chamar uma universidade pública federal e contratá-la para que possamos, em parceria, realizar uma formação de letramento para pessoas em situação de rua. Estamos começando a pensar longe, e com o básico, que é a alfabetização, o início do letramento. Sabemos que muitas vezes o caminho é muito difícil, mas quero pedir a vocês que não desistam. O Recife acredita em vocês, contem com a gente”.

O “Pão e Letra” é válido demais. Vamos ver, depois, o resultado. Tomara que essa turma tome gosto pelo estudo e pela perspectiva de mudar de vida. Mas além de letramento, pessoas em situação de rua precisam de teto, abrigo, albergues. Em todo caso, ter que se dedicar ao estudo já é um estímulo para ocupar o tempo e se reduzir, por exemplo, o consumo de drogas que, todo mundo sabe, é alto entre as pessoas que sobrevivem em praças, calçadas, parques e sob marquises.

Os inscritos no “Pão e Letra” ganham bolsa de R$ 200 a R$ 600 e mochila com material didático

As bolsas do Programa tem os seguintes valores por modalidade: R$ 200 (“Iniciante”, destinada a quem está ingressando na escolarização e participa das atividades educativas iniciais);  R$ 300  (“Estudante”, voltada a educandos já encaminhados à Educação de Jovens e Adultos (EJA) e acompanhados por tutoria;  R$ 600 (“Multiplicador”, direcionada a quem concluiu os estudos e atua na mobilização social do programa). Há ainda,  a “Qualificação Profissional“, voltada a alunos matriculados em cursos de capacitação com duração superior a um mês, em que o período da bolsa varia conforme a duração do curso, no valor de R$ 300. As três primeiras têm duração de seis meses, e as turmas de “Iniciante” darão continuidade nos Centros Pop Glória e Neuza Gomes, em grupos de até 15 alunos. Francesco Caetano, 40 anos, morador em situação de rua, está há mais de 26 anos sem estudar e contou a alegria de ter uma oportunidade de voltar às salas de aula:

“Estou me sentindo privilegiado de saber que tenho uma nova chance de ser alguém na vida. Nosso futuro depende do estudo. Para ter uma profissão melhor e mais adequada, estou muito feliz com esse novo capítulo da minha vida”.

De acordo com Censo da População em Situação de Rua do Recife, 22% das pessoas nessa condição não sabem ler e escrever, e apenas 15% concluíram o Ensino Médio. Além disso, 48% não possuem ocupação laboral, sendo que 37% estão sem trabalho há mais de 10 anos. A iniciativa da Prefeitura do Recife chama atenção, em um momento em que as populações em situação de rua são comparadas “a carros estacionados em locais proibidos”  por bolsonazifascistas de plantão como é o caso do Governador de Minas, Romeu Zema.

Nos links abaixo, mais informações sobre populações em situação de rua e sobre fome

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Edson Holanda/Prefeitura do Recife

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