No último sábado, participei da XVI Caminhada “Olhe Pelo Recife”. Era um grupo grande. Saímos de Casa Forte, onde pegamos um ônibus até o Terminal de Integração da Macaxeira, do qual fomos a pé, pela BR-101, até o Córrego do Jenipapo, que ganhou cores novas, depois de ser beneficiado pelo “Mais Vida nos Morros”, Programa sobre o qual já me referi aqui no #OxeRecife. Realmente é uma intervenção urbana que começa a chamar a atenção do “asfalto”, como os moradores lá de cima definem quem reside na parte baixa da cidade. E tanto é assim, que sacrifiquei minha praia, para dedicar o sábado a subir o Alto.
Realmente, a paisagem mudou muito. O morro ficou mais colorido, mais alegre e provavelmente cresceu a auto estima de sua população. E por que tudo isso começou? Todos se lembram de acidentes com barreiras, durante os invernos rigorosos, marcados no Recife por chuvas pesadas. Com 60 por cento da nossa população morando nos altos recifenses – onde há casas que parecem pingentes – não seria surpresa para ninguém a triste realidade dos números: 5.500 barreiras sob ameaça de deslizar. E isso significa, também, risco de vida para seus residentes.
E aí, o que foi feito: muito muro de arrimo, uma solução de custo proibitivo, principalmente diante da área necessitando intervenção: 1.800.000 metros quadrados. O sistema foi substituído pelo de geomantas, que custa cinco por cento do valor da tecnologia anterior. Mesmo assim, seriam necessários R$ 150 milhões, para beneficiar toda a região de risco, segundo revela Túllio Ponzi, Secretário Executivo de Infraestrutura e Serviços Urbanos. Uma das causas do deslizamento é o excesso de lixo nas encostas, que entopem as calhas e escoadouros. “Por esse motivo, nosso primeiro foco é a prevenção, a conscientização ambiental, a reinvenção do espaço urbano e a população como protagonista do processo de transformação”. A primeira consequência foi a eliminação dos chamados “pontos de confinamento”, onde as pessoas costumavam despejar o lixo.
“Hoje é a própria população que reclama”, diz Túlio. Ele conta que os moradores do Córrego do Jenipapo não admitem nem mesmo que a Emlurb junte lixo nas ruas beneficiadas pelo Programa, para colher depois. Além do mutirão – a população participa da pintura de graça – empresas privadas colaboram com Programa, entre elas as Tintas Iquine, a Parmesa e Armazéns Coral. Há encostas coloridas, casas, muros, e escadarias ganharam novo trato, nos degraus. Pneus pintados virarm jardins. Mas infelizmente, o esgoto ainda corre a céu aberto, por onde caminhei. Há escadarias íngremes com, mas também sem corrimão. Havia um, na que subimos, com mais de 200 degraus. Felizmente. Pelo que observo, o Programa tem tudo para virar um sucesso. Mas nem só de pedra, cal e colorido vive a população do Morro. Diz Túlio que, em um segundo momento, o “Mais Vida nos Morros” pretende potencializar a vocação do território colorido, com ações de empreendedorismo, que valorizem setores como a culinária e a cultura.
Vamos lá? É só clicar em cima da foto que você quer ampliar.
Fotos: Letícia Lins / #OxeRecife