Líder do Quilombo do Portão do Gelo, localizado no bairro de São Benedito, em Olinda, Adeildo Paraíso da Silva vai receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) nesta sexta-feira (23). A sessão solene será no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Recife. Adeildo é ninguém menos que o famoso Pai Ivo de Xambá. Ele sucedeu Mãe Biu há 25 anos e é tido como guardião e grande difusor da religião, práticas, costumes, cultura e memória de matriz africana no Brasil. Tudo através da Nação Xambá, que é remanescente do Senegal, país do continente africano.
Em tempos em que no governo federal, um órgão como a Fundação Palmares nega a importância da cultura negra no Brasil, o reconhecimento assume a maior importância, vindo da comunidade acadêmica. Marcada para 10h da manhã, a cerimônia será híbrida com parte presencial (para número limitado de convidados) e também será transmitida pelo canal da Ufpe no YouTube (www.youtube.com/ufpeoficial). A história da Nação Xambá já rendeu até livro. O grupo instalou-se em 1951 no bairro de São Benedito, em Olinda, num espaço geográfico conhecido como o Portão do Gelo. Essa nação, de origem africana, teve como precursor, no Brasil, o babalorixá Artur Rosendo Pereira. Ele havia fugido de Alagoas para Pernambuco em 1912 , devido a um movimento chamado o Quebra de Xangô , que eclodira naquele estado.
“No espaço do quilombo e do terreiro, são cotidianamente recebidos estudantes e professores da UFPE como campo de ensino, pesquisa (com vasta produção de dissertações e teses) e extensão, bem como estudantes e professores de escolas públicas e privadas de Pernambuco/Nordeste/Brasil, que passam ali por processos educativos”, registra o documento que sugere a entrega do título. A honraria é concedida a personalidades eminentes que tenham contribuído para o progresso da Universidade, da região ou do país ou que se distinguiram pela sua atuação em favor das ciências, das letras, das artes ou da cultura em geral. Aprovado pelo Conselho Universitário da Ufpe, a concessão do título foi uma iniciativa da professora Auxiliadora Martins da Silva, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino (DMTE) do Centro de Educação (CE), encaminhada pelo Conselho Departamental do CE.
Em 2008, a Nação Xambá recebeu do Ministério da Cultura, em conjunto com a Fundação Cultural Palmares e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o título de primeiro Quilombo Urbano do Brasil. História e memória desse quilombo, ao serem resgatadas, recontadas, veiculadas através de vídeo-documentário, colaboraram na elaboração de subsídios teóricos, práticos, curriculares e imagéticos para implementação da Lei 10.639/03 e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais nas escolas públicas e particulares de todos os níveis e modalidades de ensino.
A referida lei alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, incluindo no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da presença da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Africana”. A Nação Xambá instalou-se em 1951 no bairro de São Benedito, em Olinda, num espaço geográfico conhecido como o Portão do Gelo. “No espaço do quilombo e do terreiro, são cotidianamente recebidos estudantes e professores da UFPE como campo de ensino, pesquisa (com vasta produção de dissertações e teses) e extensão, bem como estudantes e professores de escolas públicas e privadas de Pernambuco/Nordeste/Brasil, que passam ali por processos educativos”, registra o documento.
A relevância do reconhecimento a Ivo de Xambá reside na manutenção das tradições culturais de matriz africana a partir de rituais do candomblé e da vivência do calendário de festas que une toda a comunidade e convidados, a exemplo o Dia da Consciência Negra, o Coco de Xambá, o Dia do Quilombo Urbano de Xambá, dentre outras comemorações; na preservação do idioma Iorubá como referência primeira da ancestralidade africana, repassando-o, através de aulas para pessoas da comunidade e para aqueles que querem aprender; e, entre outras motivos, na criação do Memorial Severina Paraíso da Silva, primeiro Museu Afro de Pernambuco, que contém diversos artefatos religiosos do candomblé e pertences da yalorixá Severina Paraíso da Silva, que, por mais de 50 anos, apesar dos preconceitos e das repressões, manteve o quilombo e sua herança cultural.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / Ufpe