Paço Alfândega: vazio, apesar do charme

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Não é o maior. E nunca foi o mais movimentado. Mas, com certeza, o Paço Alfândega pode ser definido como o shopping center mais charmoso do Recife. Localizado em situação privilegiada  -à margem do Rio Capibaribe  e ao lado da secular Igreja da Madre de Deus (foto), no Bairro do Recife – ele é instalado em um prédio de quase 300 anos. E tinha tudo para ser um sucesso. Poderia estar funcionando não só como centro de compras mas, também, como  centro de diversão e  atração turística. Poderia ter cinema, teatro e ofertar produtos diferenciados aqui da terra e da vicejante economia criativa do Recife. Estive lá no último sábado. E é uma pena que a situação esteja tão triste: muitas lojas fechadas.

No térreo, quase todas as lojas estão com as atividades encerradas. Só cinco funcionavam. No primeiro andar, apenas três.  A impressão que se tem é que com a saída da Livraria Cultura (que já foi sua maior âncora e fechou as portas), o Paço Alfândega, como shopping, perdeu um pouco de sua razão de ser. Tomara que a Livraria Jaqueira logo lá se instale, e ajude puxar de novo a frequência para cima. A administração do Paço Alfândega informou, no entanto, que a Jaqueira  funcionará à parte. Não será mais uma âncora do Paço. Na Internet, o Paço Alfândega afirma que “combina com você”. E explica: “lojas,diversão, alimentação e muito mais”. Mas, infelizmente, tirando o setor de refeições, todos os outros agora são menos. As lojas de moda somam apenas cinco. No setor diversões, está assinalado o “Paço Sustentável”. Perfumaria, zero. Lembram da antiga loja da L´Occitane, que tinha até spa? Era um charme só. Também fechou. Segundo ainda o portofólio virtual , há sete lojas de serviço e doze restaurantes. Mas aí, também vi um fechado.

No andar térreo do Paço Alfândega, são muitas as lojas fechadas do shopping, que é o mais charmoso do Recife.

Como se não bastassem as lojas fechadas, na pequena rua que fica entre o Paço e a antiga  Livraria Cultura, há um bar onde o som no sábado à tarde era simplesmente infernal. Estava com um amigo no Paço e ao ir até o estacionamento, nós simplesmente não ouvíamos o que o outro dizia. Ao meu ver, essa bagunça sonora foi quem detonou a então movimentada vida noturna da Rua do Bom Jesus, onde ninguém podia sentar em uma calçada para conversar, porque cada bar que colocasse o som mais alto do que o outro, mesmo que fossem vizinhos. Situação que ocorre na Rua da Moeda, onde há momentos que é impossível conversar. E, agora, ali, ao lado do Paço Alfândega. Caso a Livraria Jaqueira ali se instale mesmo – como está previsto – vai ter dor de cabeça para segurar os clientes. Ou pedir socorro à Secretaria do Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, para reduzir o som. Caso contrário, os clientes vão sair correndo, fugindo do barulho do bar ao lado, como o diabo foge da cruz. Eu pensei até que fosse um trio elétrico.

Sinceramente, gostaria muito que o Paço Alfândega encontrasse seu caminho. Eu, por exemplo, adoro o Paço. Acho o prédio lindo, a sua transformação em centro de compras muito bem bolada, mas talvez alguma coisa esteja errada quanto ao planejamento comercial. Caso contrário, não estaria assim, nessa decadência. É uma pena. Até porque aquele é um prédio construído em 1732 e, portanto, um verdadeiro patrimônio,, que deveria ser muito bem explorado. Localizado à margem do Rio Capibaribe, onde antes era o porto mais movimentado das Américas, o edifício serviu como Alfândega, até 1826, quando a ancoragem foi para a beira-mar.  Depois, passou um século nas mãos de uma ordem religiosa, servindo como como convento dos oratorianos. Por fim, passou à Santa Casa de Misericórdia, entrou em decadência e posteriormente foi restaurando e transformado em shopping. Tinha tudo para dar certo como um shopping diferenciado. Mas não é o que está acontecendo. Infelizmente! E não deve ser só culpa da crise.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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