Os cem buracos do meu caminho

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Em 2017, quebrei a fíbula, por conta de uma calçada assassina, mesmo assim  menos ruim do que essa da foto. Em 2019, me vi – de novo – às voltas com o pé imobilizado devido a uma lesão no ligamento, depois de torcer o tornozelo em um desnível no asfalto da esquina da Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti com a Avenida Parnamirim.  Após tirar a bota, iniciei as dez sessões de fisioterapia recomendadas pelo meu ortopedista, Bruno Carvalho. E, mesmo antes de terminar a série de fisio, dei início às minhas caminhadas. Em dose curta, claro. Na primeira delas, saí da Praça de Casa Forte (onde faço Pilates) e fui até a Estrada do Encanamento, na altura do Clube Alemão, para a fisioterapia, na Clínica Ortho.

Não gastei mais de quinze minutos no percurso, ao longo do qual fui contando os buracos ou outras irregularidades que podem funcionar como armadilhas para o pedestres: cem. Quando a conta ficou redonda, achei que era a hora de parar. E por que fui contando? Porque como o tornozelo ainda não sarou completamente, tenho que andar com o maior cuidado do mundo para não magoar a lesão que tive, ao torcer o pé em abril. Ou seja, redobrar os cuidados, ficar de olho no chão. Quando estava com a botinha, andava de bengala, para evitar queda. Mas agora, sem  proteção e diante do tempo incerto – choveu e fez sol – levei o guarda-chuva, e aproveitei para utilizá-lo como  ponto de apoio, em um imprevisto qualquer, como esses que acabam com a gente, nas calçadas e ruas do Recife.

Tem gente que me indaga: “Você não tem medo de assalto andando só na rua?” Eu sempre respondo: “Perigo maior é o buraco da calçada”.

Ao sair da Fisioterapia e fazendo o retorno por outro caminho – em direção ao Plaza Shopping – vejam com que perigo me defronto, já em outra direção: uma tampa de bueiro quebrada. E, pior, com as ferragens expostas, o que é muito, mas muito comum, em se tratando do Recife. Fiquei , apreensiva, observando uma moça que atravessava a rua, na esquina da Rua Figueira Filho com a Estrada do Encanamento, onde encontrei essa excrescência aí da foto.

Na manhã dessa quarta, quando caminhava pela Dezessete de Agosto, uma senhora se desequilibrou, ao pisar em um buraco de uma calçada. A sorte foi que o filho a apoiava e evitou que caísse. Detalhe: ela não enxerga bem, é diabética e ia ao Centro de Saúde Ermírio de Morais, que acompanha pessoas com a doença. Imaginem, então o risco, se a paciente sofre algum ferimento no pé, o que é bem perigoso, em se tratando de pessoas diabéticas. No caso da moça da calçada da foto, ela pisou no meio da tampa dupla (já vi um rapaz se machucar em uma dessas, que cederam quando ele pisou no meio), podendo, ainda, se ferir nessas ferragens que vocês estão vendo. Sinceramente, senti tristeza, ao ter a sensação de que minha cidadania está sendo violentada. Será que nós, que pagamos tantos impostos – incluindo o Iptu – não temos direito a andar sem  colocar em risco nossa integridade física? Tem gente que me indaga: “Você não tem medo de assalto andando só na rua?” Eu sempre respondo: “Perigo maior é o buraco da calçada”.

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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife

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