“Onà Dúdú” faz percurso para vivenciar os caminhos da nossa raiz afro: história, herança e sofrimento

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No ano passado, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) lançou um livro bem interessante, sobre a presença afro na  nossa cidade. “Lugares de Memória da Escravidão e da Cultura Negra em Pernambuco” mostra espaços da capital, da Região Metropolitana e até mesmo do Estado que se relacionam com a história dos negros africanos que por aqui viveram, escravizados, durante o período colonial.

E por que lembro disso? É que nos dias 21, 23 e 27 de março, acontece o  evento Onà Dúdú, que é uma itinerância histórico-performativa por quatro estações-territórios negros do Bairro do Recife. Portanto o roteiro acontece das 14h às 18 dessa quinta (21), do sábado (23) e da próxima quarta (27) . A excursão local é gratuita, levando 50 pessoas por dia para uma vivência artística por diversos locais do Bairro do Recife, incluindo até mesmo o Paço do Frevo, que recebe o espetáculo Re_Luzir, de Marconi Bispo. No Serviço abaixo, você confere como e onde se inscrever.

A Igreja das Salinas, na comunidade do Pilar, está entre os locais visitados no Ònà Dudu: revivendo a história

“O encontro nas localidades do Recife Antigo tem como objetivo a busca pelo compartilhamento das histórias e presenças dos negros e negras na construção do centro recifense”, informa o ator, O passeio foi idealizado pelo ator, dramaturgo, produtor e sacerdote de candomblé Marconi Bispo.  A primeira edição aconteceu em 2022, no mês de dezembro. Em 2024, há recurso de acessibilidade comunicacional (libras e audiodescrição). O Ọnà Dúdú traz para a programação coletivos de artistas e atores negros, como o próprio Marconi Bispo. Ele explica:

“O Ọnà Dúdú quer escavar no bairro do Recife essa presença negra que atravessa cinco séculos. Este circuito, que chega a sua 2ª edição, é uma fricção e fruição de histórias, subjetividades, corpos em incessante diáspora, re-existências e impermanências. Neste caminhar artístico-performático perguntamos: quem começou esse Recife Antigo?”.

Na pesquisa para montar o Onà Dudú,  Marconi elenca dados históricos importantes. Abaixo, leia alguns deles:

“O Recife foi a cidade campeã em crianças africanas traficadas; e tornou-se o  quinto centro mundial e terceiro do Brasil de tráfico escravista. Além disso, Pernambuco recebeu o primeiro navio negreiro (em 1560), a pedido de Duarte Coelho. O  número de pessoas escravizadas trazidas para Pernambuco chegou a  853 mil pessoas. E Recife tem na presença africana um dos elementos basilares de sua formação citadina, fato pouco divulgado”.

A itinerância também celebra os dias 21, Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé (Lei Nº 14.519, de 5 de janeiro de 2023) e Dia Internacional da Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, data que guarda profunda relação com o escopo do projeto Ọnà Dúdú, e 27 de março, Dia Nacional do Circo e o Dia Mundial do Teatro, data também importante para a ação, uma vez que o circuito tem na sua base estas artes da cena. As performances que foram escolhidas para a experiência Ọnà Dúdú no centro do Recife questionam que cidade negra é essa que, a despeito de tanta presença — até o fim do tráfico (1856) registrou em torno de um milhão de africanos e africanas — ainda se faz ignorada e invisibilizada.

“Que caminhos essas pessoas abriram nesta cidade aquática? Onde esses caminhos desaguaram? Nós estamos reunidos por eles e elas. Toda uma cidade foi erguida a partir desta presença. Atuaremos como este rio africano chamado Ọnà, reabrindo sulcos nessa terra racista onde pisamos. Somos artistas negros e negras, cada qual movendo suas expressões artísticas a partir desta singularidade e ancestralidade. Nossa ação é escavatória, uma tentativa de fazer lembrar que as ruas (Ọ̀nà) deste bairro são negras, ontem e hoje”, comenta.

O Ọnà Dúdú foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo/2023, por meio do Edital Multilinguagens – Recife Criativo, da Prefeitura da Cidade do Recife.  As palavras Ọnà e Dúdú pertencem à língua Yorùbá. Ọnà significa rua, caminho, estrada, acesso, indicação, método, maneira e também forma de se fazer algo. Ọnà é arte, obra de arte e o nome de um rio africano. Dudú leva o significado de ser preto e negro. As “estações” visitadas são: a Cruz do Patrão. a comunidade do Pilar,  Teatro Apolo e rua da Guia,   no Paço do Frevo.

Nos links abaixo, você confere mais informações sobre personagens e fatos da história afro.

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Serviço:
ỌNÀ DÚDÚ – Caminhos Negros do bairro do Recife. Itinerância histórico-performativa 
21 de março [quinta-feira], das 14h às 18h;
23 de março [sábado], das 14h às 18h;
27 de março [quarta-feira], das 14h às 18h
Gratuito. Inscrições via e-mail: producao.onadudu@gmail.com

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Arthur Canavarro e Bira Machado / Divulgação

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