Voltei ao Bonsucesso, em Olinda, onde estivera no final do ano passado. Em dezembro, a situação do abandono do local me provocou indignação. Havia muito lixo acumulado, incluindo sofás velhos e poltronas, jogados naquilo que deveria funcionar como um jardim, em região turística, principalmente no verão, quando aumenta a visitação no Sítio Histórico. Movimento que cresce ainda mais com a aproximação do carnaval, já que é ali que fica a sede do Clube Carnavalesco de Alegoria e Crítica O Homem da Meia Noite.
A cidade, como vocês sabem, é considerada Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade, título conferido pela Unesco em 1982. E deveria, portanto, estar em situação impecável. Há alguns dias, estive no bairro tradicional e popular da vizinha cidade. Fui com a filha Juliana (foto) mostrar aos netos a primeira bica de Olinda (Rosário), a primeira igreja no Brasil a pertencer a uma irmandade formada de pessoas negras (Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos), as ruínas do Senado (com a devida história, claro), o Mercado da Ribeira, entre outros monumentos. No Bonsucesso, a meninada também visitou o pé de baobá ali plantado, a escultura em homenagem a Zumbi dos Palmares. Destaque para a bica, que meu neto caçula – claro, em pleno século 21 – não sabia do que se tratava. “O que é bica, bobó”?. Fui lá, mostrar a ele e explicar como as pessoas conseguiam acesso à água, nos séculos passados.
Depois, claro, visita à morada do boneco que vem a ser o mais famoso gigante de Olinda. Juliana ficou emocionada, pois nunca tinha visto o calunga tão pertinho. Abraçou, beijou e tirou fotos com o boneco. Nas áreas públicas, havia menos lixo do que em minha última visita a Olinda. Já é um avanço. Os móveis velhos jogados no gramado, nas calçadas e na Bica do Rosário haviam sido recolhidos (ver link abaixo). Ali no Bonsucesso, percebi , no entanto, falta de cuidado com a vegetação dos morros onde ficam monumentos históricos, incluindo aquele em cujo alto está a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de Olinda. O morro está careca, sem gramado nenhum.
Situação que observei, também na Praça do Carmo, a chamada Praça da Preguiça, onde fica a Igreja do Carmo. Tanto no Bonsucesso quanto nas outras áreas agora visitadas, não observei tralhas tão grandes (incluindo móveis velhos) no meio das ruas. Mas a quantidade de garrafas PET pelo chão das praças era espantosa. Inclusive em frente à sede do Homem da Meia Noite. Dá uma tristeza grande, quando a gente vê áreas e prédios históricos do Recife e Olinda cercados de lixo. Se agora a situação já é crítica no meio da semana, imaginem na segunda-feira de manhã, depois da passagem das 16 agremiações carnavalescas, que tinham previsão de percorrer o sítio histórico nesse domingo. Valha-me Deus!
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Maria Letícia Lins / Cortesia e Letícia Lins