Olinda é linda, mas… (1)

No último final de semana, tivemos a vigésima primeira edição do Projeto Caminhadas Domingueiras, que foi em Olinda, a única cidade de Pernambuco até hoje a ser declarada pela Unesco como Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, o que ocorreu em 1982. Mas que, por não fazer jus ao título, já esteve até ameaçada de perdê-lo. É uma pena, porque Olinda foi contemplada com uma topografia singular, um bonito casario e conserva, até hoje, o verde de seus quintais, o que lhe confere uma paisagem bem diferente do Recife que, a cada dia, se verticaliza mais, destruindo o verde que lhe resta dos jardins e quintais de velhos casarões.

Ex capital de Pernambuco, disputada por europeus – ao ponto de sofrer um incêndio – Olinda ainda guarda muitas relíquias do passado, inclusive de natureza religiosa, como a Matriz São Salvador do Mundo (a Sé), o Convento de São Francisco, a Igreja do Carmo, o Seminário, as igrejas de Nossa Senhora do Amparo e de Guadalupe. Também conta com seu secular e simétrico casario, com sobrados mouriscos ou com varandas ornamentadas com ferro. O seu sítio histórico não soma nem dois quilômetros quadrados, uma área relativamente pequena, que poderia muito bem facilitar a preservação e a conservação do seu patrimônio arquitetônico.

Nem a sede do Iphan, guardião do nosso patrimônio, escapa da ação de vândalos, em Olinda: diferente de Cartagena.

Em alguns pontos da cidade histórica ainda restam postes de iluminação não condizentes com sua arquitetura antiga, mas em alguns locais, como o Alto da Sé, a fiação já foi embutida, atribuindo mais leveza à paisagem. O comércio ambulante, infelizmente, está muito desordenado, e as barracas que mais lembram um fim de feira tiram a estética do Alto da Sé, um dos locais mais visitados por turistas. Outro problema são as pichações, que estão em todos os lugares. Vandalismo puro. Até na casa vermelha, que fica na Praça de São  Pedro, sendo falsamente atribuída a Maurício de Nassau. E também na fachada da unidade do Iphan, que fica na Rua do Amparo. Já era tempo do sítio histórico possuir câmeras de monitoramento que flagrassem os vândalos em plena ação.

Neste mês de janeiro estive em Cartagena das Índias, na Colômbia, a cerca de mil quilômetros de Bogotá. Como Olinda,  Cartagena foi declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. A diferença entre as duas cidades, no entanto, é gritante. E a área tombada de Cartagena é muito maior, cercada por uma muralha que dizem ter uns 13 quilômetros de extensão, no interior da qual há quatro bairros. Todos os prédios da parte histórica – casarões, museus, restaurantes, lojas, sorveterias – estão conservados, pintados, e grande parte ostenta flores, que emprestam um ar alegre à cidade. Não vi lixo nenhum nas praças – ao contrário de Olinda – e os espaços públicos são bem utilizados, com cadeiras e mesinhas, sem nenhuma barraca que degrade seu harmonioso conjunto arquitetônico. Detalhe: não vi nenhum, mas nenhum mesmo, prédio pichado.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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