Óleo derramado em 2019 deixa marcas no Litoral Sul de Pernambuco

Por incrível que pareça, no Litoral Sul de Pernambuco ainda há vestígios daquele que foi o maior desastre ambiental registrado no Nordeste do Brasil: o até hoje misterioso derramamento de óleo ocorrido em 2019.  Nada como a grande quantidade que invadiu mar, areia e arrecifes no ano passado, quando a população deflagrou a campanha #Sechegaragentelimpa, com uma grande mobilização para recolher o material que poluía a costa pernambucana. Nesta semana, equipes da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco (Semas-PE) e da Agência CPRH vistoriaram três praias da  região, onde apareceram fragmentos de petróleo. A visita ocorreu depois de denúncias que chegaram aos órgãos ambientais do Estado.

Nada tão intenso, como o desastre ambiental de 2019.  Mas tem muita gente reclamado do piche na areia. Foram percorridas as praias de Cupe e Muro Alto (em Ipojuca) e Tamandaré (município do mesmo nome). A operação também contou com representantes da Capitania dos Portos, Ibama e prefeituras. “As primeiras avaliações técnicas apontam que o material encontrado é proveniente de manchas de petróleo que atingiram o litoral do Nordeste e parte sudeste do país, no ano passado”, informa a Semas, em nota.

O material estaria sedimentado no leito do mar ou preso em corais, chegando às praias por conta de uma combinação de fatores meteorológicos que reviraram o fundo e soltaram os fragmentos sedimentados. “Nos últimos cinco dias, essa região registrou marés de sizígia, que geram grandes variações; uma maior intensidade das correntes marítimas devido à época do ano; e a chegada de um Swell com ventos acima de 20 nós”, esclarece a Semas. Algumas amostras do petróleo foram coletadas pela Capitania dos Portos e serão encaminhadas para análise. A Semas e CPRH também estão orientando as prefeituras que, se encontrarem o material que são pequenas partículas, façam a limpeza da área, recolhendo o material usando os Equipamentos de Proteção Individuais adequados, acondicionando em tonéis ou bags para posteriormente enviar a aterros industriais licenciados ou para a reciclagem.  De acordo o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade, José Bertotti,  vestígios de óleo vêm sendo observados sempre que ocorrem grandes marés e eles aparecem em forma de pequenos aglomerados de piche, areia e fragmentos de conchas. Isso é um indicador de áreas impactadas por óleo, sendo o fenômeno considerado uma das fases do pós-vazamento.

Ele informou que a  Semas tem solicitado à Marinha do Brasil a entrega dos relatórios finais das ações emergenciais e dos sete Grupos de Trabalho. Até hoje, no entanto, as autoridades brasileiras não divulgaram o resultado da investigação sobre o crime ambiental.  “Estamos cobrando à Marinha o relatório conclusivo do Grupo de Acompanhamento e Avaliação – GAA, quanto às ações de emergência de resposta que possibilitaram a redução de danos ambientais; o quantitativo de resíduos coletados por estado e o destino final ambientalmente realizados. Também queremos ter acesso aos relatórios dos sete grupos de trabalho científicos com as respectivas avaliações ambientais e as medidas de recuperação dos ecossistemas atingidos”, disse Bertotti. Ainda segundo o secretário, essas informações seriam fundamentais no processo de monitoramento e eventual recuperação das áreas atingidas. “Esperamos também que a CPI do Óleo em andamento no Congresso possa nos dar uma luz sobre as investigações que não foram conclusivas nem pela Polícia Federal nem pela Marinha quanto ao volume e à origem do petróleo vazado. Isso nos deixa uma grande lacuna sobre a capacidade de interpretar o volume de óleo que chegou, a quantidade já coletada e o quanto ainda pode estar por chegar”, concluiu.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Semas – PE/ Divulgação

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