Tudo que é inclusivo é bom. Dar acesso e oportunidades para pessoas com deficiência é obrigação de todos nós. Por esse motivo, o #OxeRecife faz questão de noticiar iniciativas do gênero. Sejam oficiais ou particulares. No Dia Nacional dos Cegos (13/12), o Recife tornou-se a primeira cidade brasileira a ter um dispositivo de tecnologia inclusiva – que se assemelha a uma visão artificial – voltado para a letramento e conhecimento dos alunos da rede municipal de ensino. Os “óculos” que traduzem textos e imagens já se encontram nas escolas e poderão ser usado não só por estudantes, como também por professores. E viva a escola inclusiva!. Na rede oficial do Recife, há treze alunos cegos, 124 com baixa visão e oito professores que se enquadram na mesma situação.
A informação é da Secretaria de Educação do Recife. Na última quinta-feira, foram entregues 27 equipamentos (foto ao lado) para serem utilizados por alunos e professores da rede. Deste total, cinco foram entregues a duas conhecidas instituições de Pernambuco: Instituto dos Cegos e Associação Pernambucana de Cegos. O valor do investimento foi de R$ 500 mil. Todo mundo que precisa está comemorando, entre professores e alunos.
“Estamos disponibilizando um dispositivo que é acoplado aos óculos e vai beneficiar todos os professores com deficiência visual bem como nossos alunos”, destaca Bernardo D´Almeida, Secretário de Educação do Recife. “Nunca houve no Brasil a entrega para utilização pedagógica dessa tecnologia, recurso importante para a qualidade de ensino”, assegura. Na prática, o dispositivo Orcam My Eye 2.0 detecta textos em português, inglês e espanhol, com possibilidade de escolher entre voz masculina e feminina. E tem comandos para pausar, adiantar ou retroceder a leitura. O equipamento consegue ainda identificar cores e tonalidades, reconhecer pessoas e gêneros, rostos, informar a data e hora com um simples gesto de girar o pulso, cédulas de dinheiro (reais e dólares) e identificar produtos pelo código de barras. Após o reconhecimento, retransmite a informação discretamente no ouvido do usuário, oferecendo uma maior independência às pessoas cegas e com baixa visão.
“Ter acesso ao equipamento é ótimo porque vai melhorar a minha situação dentro da sala. Eu vou poder tirar as atividades do quadro sozinho sem precisar de um auxiliar do lado”, comemora Caio Henrique, de 14 anos, com baixa visão e estudante do 8º ano da Escola Municipal Nilo Pereira, em Casa Amarela, Zona Norte do Recife. Gustavo Dantas, professor do Ensino Fundamental do Recife, é cego e foi um dos beneficiados com o nova tecnologia. “ O que não era acessível passa a fazer parte do nosso dia a dia. Tudo aquilo que não está acessível de alguma forma – outdoor, cartaz, cardápio, livro didático – agora se torna acessível a nós”, comemora. E indaga: “Quem nunca chegou ao restaurante e não teve acesso ao que estava no cardápio? “
Ele afirma que equipamento discreto. “Quem está na mesa ao lado, não imagina que estamos realizando um sonho. Hoje esse sonho é uma realidade. Recife faz a história, dando o passo inicial”. Diretora do Instituto dos Cegos, a Irmã Maria da Silva Gomes elogia a inciativa. “A tecnologia permite que os alunos e professores tenham acesso ao conhecimento. As pessoas cegas começarão a se sentir iguais as outras pessoas que podem pegar um livro e ler. O acesso ao conhecimento permite um reforço grande a inclusão, emancipação, independência, autonomia. Nossa meta é resgatar a cidadania, devolver a dignidade e fazer com que as pessoas com deficiência visual percebam dentro de si eu posso, eu vou e eu consigo’”.
A gerente de Educação Especial do Recife, Adilza Gomes, explica que o equipamento será utilizado pelos alunos e professores na sala de aula regular e no Atendimento Especial Especializado (AEE) da rede de ensino. “Os professores e estudantes vivenciarão experiências autônomas de leitura, que ampliarão as possibilidades do processo de ensino e aprendizagem, colocando mais uma vez a educação da cidade como pioneira no processo de inclusão escolar das pessoas com deficiência e na valorização dos professores”. Representante da Orcam no Nordeste, André Santos ressalta a importância da iniciativa da Secretaria de Educação do Recife. “Cerca de 80% das atividades que realizamos no dia a dia estão relacionadas à leitura. O MyEye 2.0 é o que existe de mais moderno em tecnologia assistiva para as pessoas com deficiência visual. Eles podem ir para bibliotecas ler os livros apesar da falta de visão. É um complemento ao braille que dá uma grande autonomia”.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / PCR