Muito rico culturalmente, Pernambuco é ainda mais diversificado do que se imagina. E não é só por conta das numerosas manifestações do seu carnaval, como frevo, caboclinhos, maracatu de baque virado, maracatu de baque solto, manguebeat, ursos, blocos líricos, tabaqueiros, caiporas, papangus, caretas, entre outros. É que o Ciclo Natalino também surpreende: pastoris, reisados, bois de Natal, fandangos ainda sobrevivem. Porém, no Sertão do São Francisco há uma manifestação pouco conhecida pela população do Recife, mas muito festejada e é até tema de estudos acadêmicos na região da caatinga. É aquela realizada em dezembro pela Confraria do Rosário, entidade que conta até com “rei perpétuo”. A Confraria é considerada Patrimônio Vivo de Pernambuco.
A tradição de dois séculos ocorre no município de Floresta, a 430 quilômetros do Recife. A Confraria é formada por famílias de homens e mulheres negras que vêm mantendo o costume de realizar celebração que se insere nos festejos do Ciclo Natalino. Na festa, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, realiza-se a “coroação” de um rei e uma rainha, como forma de mostrar aos não negros e aos brancos que, apesar de terem sido escravizados, o povo negro carregava sangue real. Ou seja, um ritual que lembra aquele que deu origem ao maracatu de baque virado no Recife, o chamado maracatu nação, de origem africana, quando – em um sonho de liberdade – os escravizados “coroavam” o rei e a rainha do Congo, ainda hoje as principais figuras da manifestação, ainda muito forte no carnaval de Pernambuco.
Em Floresta, o cortejo da coroação é acompanhado por uma banda de pífanos, os homens e mulheres saem às ruas cantando hinos e benditos que misturam o português com alguns dialetos africanos, que os nativos nem sabem precisar todos os significados. “A gente não tem a origem dessas músicas, que vêm sendo passadas de geração em geração e têm algumas palavras em língua africana”, conta João Luiz da Silva, rei perpétuo e Presidente da Confraria (de óculos, na foto). “Existe todo um calendário religioso de festividades, que chega ao fim no dia 31 de dezembro, único dia livre que os negros escravizados tinham nas fazendas de Floresta”, diz. Ele conta como funciona a Confraria: “Nossa irmandade é composta por 65 integrantes, entre homens e mulheres”
E acrescenta: “Temos organização jurídica e religiosa, com rainha e rei perpétuos”. A formação da Confraria inclui, ainda, a juíza do rei, a juíza da rainha, os juízes dos andores, das espadas e dos altares e os confrades e confreiras que fazem parte da organização religiosa, segundo ele informa. O calendário teve início no dia 22, com uma procissão de Nossa Senhora do Rosário e do padroeiro de Floresta Bom Jesus dos Aflitos. No dia 31, tem missa com a “coroação” do Rei da Rainha do Congo. E no dia 1º de janeiro, há o encerramento, com um procissão de São Benedito, Nossa Senhora do Rosário e Bom Jesus dos Aflitos.
A tradição que a Confraria repassa geração após geração remonta a uma antiga história do catolicismo, que narra sobre a aparição de uma imagem de Nossa Senhora do Rosário num mar do continente europeu, onde havia um intenso comércio de escravos. Os portugueses teriam tentado retirar a escultura do local, mas somente quando os moçambicanos chegaram à praia, batendo os seus tambores e lhes pedindo proteção, a imagem se soltou e foi levada pelas ondas até a areia. A partir de então, a santa passou a ser considerada a madrinha dos negros que, quando chegaram ao Brasil colonial, passaram a cultuá-la em diferentes partes do país.
Em Floresta, a Confraria do Rosário é uma dessas instituições ancestrais que permanecem até hoje comandando a festa para a Santa, sempre no dia 31 de dezembro, como manda a tradição local. “O dia de Nossa Senhora do Rosário, na verdade, é 7 de outubro, mas os negros daqui só tinham livre o dia 31 de dezembro, por isso, a coroação foi deslocada”, explica João Luiz Silva. Nesta terça (28), às 19h, a Secretaria de Cultura de Pernambuco promove em seu canal no Youtube uma live que vai falar sobre a tradicional celebração da Confraria do Rosário. Além de João Luiz, o bate papo vai contar com a participação de Manoel Cassiano de Barros Neto, mais conhecido como Jubileu. E juiz das espadas e espadachim mais velho da Confraria. Ele diz:
“Sou juiz das espadas, herdeiro de Manoel Preto, um homem de muita importância para a Confraria do Rosário e que me passou a função de organizador das espadas e das vestes, para que se cumpra o dever dos guardiões do rei e da rainha”.
Agende-se para assistir, na terça, 28/12, live sobre essa curiosa história da nossa história! Nos links abaixo você confere outras informações sobre cultura popular em Pernambuco.
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Serviço
Live “Ancestralidade – A Confraria do Rosário como Patrimônio Vivo de Pernambuco”
Quando: 28 de dezembro de 2021 (terça-feira), às 19h
Transmissão: www.youtube.com/SecultPE | www.facebook.com/culturape
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Secult-PE e Site da Prefeitura de Floresta
Muito rico e diversificado culturalmente o nosso Pernambuco. Essa eu não conhecia, parabéns Letícia por nos trazer mais essa maravilha nossa pouco conhecida. Parabéns