Vejam só que coisinha mais linda e fofa aí na foto. Com a devastação de nossas matas e a escassez do seu alimento predileto – a embaúba – é cada dia mais comum a presença de preguiças em locais indevidos, como avenidas, rodovias federais e até mesmo em quintais domésticos. O animal não é agressivo e, com sua lentidão, torna-se presa fácil, terminando em cativeiro de humanos desalmados. Mas nem tudo está perdido. E tem muita alma boa por aí dando a atenção merecida a esses bichinhos, próprios da Mata Atlântica e que, vez por outra, são resgatados em situação de risco aqui no Recife. No Parque Estadual de Dois Irmãos, o Projeto Conservação Preguiça de Garganta Marrom está entrando no seu sexto ano, com 60 animais já acompanhados, dos quais 21 foram devolvidos à natureza. No Pedi, veterinários e biólogos trabalham até na recuperação de bichos feridos e de bebês órfãos.
Os animais ali atendidos são, em sua grande maioria, vítimas de atropelamentos ou choques elétricos (já que esses danadinhos adoram se pendurar nos fios….). Também há filhotes que perderam as mães e não conseguem viver sós. Como vocês devem saber, é grande a dependência do filhote, pois é a mãe que ensina o bebê a escolher o que comer nas matas, livrando-o do consumo de folhas tóxicas ou venenosa. Mãe, afinal, é mãe. Lembram-se daquela preguiça que se queimou toda em uma árvore, para livrar o bebê do fogo? São, pois, mães dedicadíssimas (ver links abaixo). De acordo com a coordenadora do Projeto, Fernanda Justino, o trabalho realizado com a espécie Bradypus variegatus, conhecida como preguiça-de-garganta-marrom ou preguiça-de-óculos, consiste principalmente no tratamento das lesões. E, claro, em torná-los independentes.
“A nossa maior expectativa é de que os animais busquem o seu próprio alimento, se locomovam com habilidade entre as árvores e consigam se defender. Quando vencem estes desafios, já estão prontos para voltar para o seu habitat natural”, ressalta. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, o tempo de observação, tratamento e reabilitação depende das condições em que os animais chegam ao projeto. Um indivíduo adulto pode ser devolvido à mata em dois meses, após se recuperar dos ferimentos. Já os filhotes podem ficar até cinco anos no projeto, quando se encontram aptos a serem soltos. “Um bebê-preguiça na faixa de três meses de vida, por exemplo, precisa de uma dedicação especial. Eles são alimentados com mamadeiras de leite a cada três horas, por um período de três meses”, detalha Fernanda Justino, que também é bióloga.
Prontos para a vida selvagem, os bichinhos são liberados. A última soltura foi no dia 19 março, nos próprios remanescentes de Mata Atlântica do Parque Dois Irmãos, que possui 1.158 hectares. Antes de ganhar a liberdade, as preguiças receberam colares feitos de material reciclado, com equipamento de radiotransmissor acoplado. A tecnologia é da Universidade Federal de Pernambuco, parceira do projeto. O equipamento foi desenvolvido pelo pesquisador Valdir Luna, pós-doutor pela Hiroshima University, do Japão, e especialista em comportamento biológico das preguiças. Os animais agora serão monitorados ao longo de cinco meses.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Shirley Pacheco/ Divulgação/ Semas – PE