O Recife perde um dos seus últimos chalés. Durante o carnaval, demoliram tudo. E agora, como é que é?

Compartilhe nas redes sociais…

Primeiro, o alerta foi dado pelo amigo Josué Nogueira, que tem a salutar mania de documentar as construções horizontais do Recife que, aos poucos, vão desaparecendo. Antes com o seu “Antes que suma”. E agora com “Só vem quem vai a pé”, na conta do Instagram. Logo após o carnaval, ele mostrou que enquanto a folia dominava o Recife como se não houvesse amanhã, o “ontem” era, mais uma vez, mutilado. Aliás, destruído como tornou-se comum nesse Recife sem memória.

Esse chalé da foto ficava na histórica Estrada do Encanamento, que liga o bairro de Casa Amarela ao do Parnamirim, ambos na Zona Norte do Recife. Diziam até que o chalé era uma das muitas construções com histórias de assombração da nossa cidade. Porém eu o frequentei na infância e confesso que nunca vi por lá nenhuma alma penada. Ao contrário, cheguei a brincar algumas vezes, no seu quintal repleto de fruteiras, com eram os quintais de minha infância. Nele, morava uma colega de colégio. Só não lembro se do tempo do Sagrada Família ou do Colégio das Damas da Instrução Cristã, hoje conhecido apenas como Damas.

Olhem só o que restou do chalé secular que era vizinho ao que morou o educador Paulo Freire, também demolido

Logo após ver a postagem de Josué, estive na Estrada do Encanamento durante minha caminhada matinal. E fiquei triste com o que fizeram. Acabaram com tudo, com o chalé, as árvores, deixaram o terreno nu. Ainda não há nenhuma placa anunciando a empreiteira responsável pela destruição e pelo próximo espigão. O chalé destruído inclusive era do mesmo estilo de um outro, vizinho, onde nasceu o educador Paulo Freire. E que também foi demolido pela especulação imobiliária. Algumas construtoras preservam os casarões antigos, transformando-os em salão de festa, área de convivência, ou de administração. Outras, no entanto, só fazem demolir como foi o caso.

Restam, assim, poucos chalés no Recife que, aos poucos, vai perdendo a sua identidade. Eles ainda podem ser vistos em bairros como Madalena, Casa Forte, Poço da Panela, Graças e Várzea. Mas contam-se nos dedos. Eram solicitados por famílias abastadas do passado. Lembram  as casas grandes das fazendas do séculos 18 e 19, mas se urbanizaram no Recife, durante as três primeiras décadas do século 20. Trouxeram do interior o gosto por pomares e jardins. Possuem telhado em duas águas (como um V ao contrário) e terraço frontal, que alguns chamam de alpendre. Porém há chalés que também  apresentam  terraços nas laterais. Os muros costumam ser ornados com grades, deixando à vista seus jardins. Os pisos costumavam ser de ladrilhos hidráulicos e as telhas, quase sempre eram francesas.  Algumas construtoras preservam chalés, como é o caso daquele que estava em ruínas, no chamado Sítio do Caldeireiro. Outras, passam a máquina em cima com zero consideração pelo que o Recife foi um dia. É uma pena que estejam sumindo, e que os que restam – como o Chalé do Prata e do antigo Hospital Magitot – estejam abandonados e em ruínas.

Abaixo, você confere informações nostálgicas sobre o Recife.

Leia também
Um  passeio pelos chalés do Recife
Licitação para restaurar Chalé do Prata será ainda em 2021
Casarão histórico do Sítio Caldeireiro será preservado
Mais um chalé de acabando: IEP sem lambrequins e com cupins
Chalé onde nasceu Paulo Freire? Veja qual era o chalé de sua infância
Sessão Recife Nostalgia: Mais um chalé demolido na nossa cidade
Chalé do Sítio  daTrindade, em Casa Amarela, muda de cor e vai abrigar memorial da verdade
Sabe o antigo Café Lafaiette? Veja o que ficou no lugar dele
Secular Magitot em ruínas na Várzea
Demolição de marco da arquitetura moderna gera protestos no Recife
Sessão Recife Nostalgia: Demolido marco da arquitetura moderna
Na rota dos velhos casarões
Casa Forte: Casarões em risco
Casas modernistas empatando tua vista
Ameaçado, Sagrada Família pode virar IEP
Sessão Recife Nostalgia: Antônio Gomes Neto revive o passado do Recife
Sessão Recife Nostalgia: Armazéns do Caboclo, no bairro de São José
Sessão Recife Nostalgia: Armazéns do Caboclo
Sessão Recife Nostalgia: Casa Navio, papa-fila,Sorvete D’Aqui
Sessão Recife Nostalgia: Escolinha de Arte do Recife na Rua do Cupim
Sessão Recife Nostalgia: Demolido um dos marcos da arquitetura moderna
Sessão Recife Nostalgia: Nos tempos de O Veleiro, na praia de Boa Viagem
Sessão Recife Nostalgia: Os quintais de nossa infância
Sessão Recife Nostalgia: pastoril, Villa Lobos, e piano na Casa do Sítio Donino

Sessão Recife Nostalgia: Solar da Jaqueira
Sessão Recife Nostalgia: os cafés do século 19, na cidade que imitava Paris
Sessão Recife Nostalgia: Maurisstad, arcos e boi voador
Sessão Recife Nostalgia: Ponte Giratória
Sessão Recife Nostalgia: Casa de banhos e o fogo das esposas traídas
Sessão Recife Nostalgia: o Restaurante Flutuante do Capibaribe
Sessão Recife Nostalgia: Sítio Donino e seu antigo casarão ameaçado
Casarão histórico do Sítio do Caldeireiro será preservado
Vamos visitar o ” rurbano” bairro da Várzea?
Bonde vira peça de museu e trilhos somem das ruas no Recife sem memória

Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

Continue lendo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.