O Recife pelas lentes de Fred Jordão

A câmera pode ser a mais sofisticada e moderna do mundo. Mas não há nenhuma que supere o olhar crítico, poético, estético e oportuno do fotógrafo que a manipula. E Fred Jordão é um desses profissionais, de olhar muito diferenciado. Basta folhear alguns dos seus livros de fotografias – como o belíssimo Sertão Verde Paisagens – para  se ter essa certeza. Ele agora presenteia o público com outro livro, dessa  vez voltado para o nosso ambiente urbano.  O nome do livro: Recife, a ser lançado às 18h do dia 7 de maio, no Bar Central.

São 175 fotografias, que documentam a evolução da cidade, ao longo dos últimos 30 anos. Com seu olhar apurado, Fred nos mostra o Recife dos contrastes, da pobreza e da opulência, dos casebres e dos prédios de luxo.  Também passeia pela “Veneza Brasileira”, sem esquecer as sua faces Hellcife ou Recifilis, por conta do seu caos urbano e suas mazelas sociais. “É um inventário sentimental, registro de uma cidade que se sobrepôs ao Recife de Lula Cardoso Ayres e Alcir Lacerda”, diz Fred, referindo-se ao artista plástico, que documentou, também cenas pitorescas do Recife com fotografias, no século passado. Já Alcir foi uma espécie de mestre de várias gerações de fotógrafos, cujas fotos da cidade até hoje inspiram seus discípulos.

Livro  mostra o transformação do velho casario do Recife em um paredão de edifícios, como em Boa Viagem

No livro, Fred mostra a mudança da paisagem com a chegada dos espigões, o que faz o sol desaparecer mais cedo, por exemplo, das areias da praia de Boa Viagem. “As cidades estão ficando todas muito parecidas e muito sem graça. A Rua da Aurora é mais bonita que a Avenida Boa Viagem. Dificilmente alguém vai construir um casarão como aquele, mas esses prédios de espelho estão em qualquer lugar, em Nova Iorque, em Bangkok ou em qualquer cidade do Terceiro Mundo. A modernização padronizou tudo”, lamenta o fotógrafo, com toda a razão.

Nas fotos, ele mostra muita preocupação com a transformação e o destino do Recife, com a sua verticalização, o encastelamento da população, o distanciamento das ruas, já que seus edifícios estão se transformando em fortalezas, que se erguem sobre verdadeiras muralhas. Para o fotógrafo, a capital está deixando de ser uma cidade de convívio. Por esse motivo, o livro é, também, “uma reflexão sobre essa modernidade”. Então, vamos lá, ver o livro que interessa a todos que gostam do Recife, e que se preocupam com o seu presente e o seu futuro.  O livro tem textos de um arquiteto e urbanista (Luís Amorim) e de  um pesquisador e professor (José Afonso Júnior), ambos da Universidade Federal de Pernambuco. Quem comprar, ganha um pôster com uma das fotos da publicação, que tem edição da Cepe.

Leia também:
Cais José Estelita começa a virar pó
O ato revolucionário de caminhar e os corredores penitenciários do Recife
Bonde virou peça de museu e trilhos somem das ruas do Recife sem memória
Postal vira peça de museu
O Hotel do Parque sem memória
Hotel do Parque em livro sobre Root
Cine Glória: art-nouveau e decadência
Bairro de São José: o Haiti não é aqui
Você está feliz com o Recife? 

Serviço:
O quê: Lançamento do livro Recife
Onde: Bar Central, Rua Mamede Simões, 144, Santo Amaro
Quando: terça-feira, 7 de maio, 18h
Quanto: R$ 90 (impresso) ou R$ 27 (e-book)

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Fred Jordão/ Divulgação

Continue lendo

2 comments

  1. Sou apaixonada pela minha cidade.
    Ver seus detalhes despercebidos capturados em fotos maravilhosas me alegra.
    Obrigada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.