Coronavírus traz fantasma da fome

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Além do pânico generalizado, o coronavírus começa a provocar um outro tipo de pânico: o social e econômico. Principalmente entre as pessoas que vivem na informalidade e que precisam de ruas cheias de gente para escoar suas mercadorias e voltar para casa, pelo menos, com o dinheiro da feira. Mas o Covid-19 chega trazendo, também, o fantasma da fome. Meu amigo Alexandre Cesário Trindade se arriscou hoje a ir ao centro do Recife, onde testemunhou um casal chorando de desespero. Ambulantes, marido e mulher vendem 80 garrafas de água mineral por dia.  Mas só haviam “descolado” apenas sete, no final da tarde devido ao deserto em que se transformaram as ruas. Então, é da maior importância a iniciativa da Secretaria de Educação do Recife, para não deixar que falte acesso à merenda escolar.  Mesmo com as crianças em casa.  É que apesar das aulas suspensas a partir da quarta (18/3), os 90 mil estudantes da rede municipal não ficarão privados da merenda.

Se a merenda é importante em situação normal para famílias carentes, em tempos de paralisação da economia por conta da pandemia, a iniciativa fica prioritária para  garantir a segurança alimentar de muitas famílias que dormem sem saber o que terão na mesa no dia seguinte. A Rede Municipal de Ensino tem 315 escolas.  E o Recife é a primeira capital brasileira a colocar a iniciativa em prática.A distribuição de kits alimentares para os pais ou responsáveis por alunos nas escolas da rede vai começar às 7h30m da quarta-feira, na Escola Municipal Santo Amaro, que fica na Avenida Norte, no bairro popular de Santo Amaro. A Prefeitura espera distribuir  mais de 90 mil kits já na quarta-feira. São cerca de 270 toneladas de alimentos (laticínios, bolo, biscoitos, cereais). Além dos mantimentos, os pais dos estudantes terão direito a um kit limpeza (sabão, desinfetante, água sanitária e detergente). Até porque manter as mãos bem limpas é uma das ações para prevenir a disseminação do vírus.

Merenda escolar das escolas municipais será garantida, mesmo com as crianças sem aulas, devido ao coronavírus (ARB)

“Recife é a primeira unidade da Federação que, ao suspender as aulas, priorizou a segurança alimentar do corpo estudantil através de esquema de logística para distribuição de merenda para crianças e jovens”, assegura a Secretaria de Educação da PCR. A medida merece elogio. Afinal, ontem autoridades de São Paulo diziam ser um problema a entrega da merenda, em caso de suspensão das aulas das redes oficiais de lá. Os os estudantes também receberão indicação de um material pedagógico para auxiliar na continuidade dos estudos em suas residências. Pelo menos, é o que assegura a Prefeitura, o que também é bom, já que – assim – os pequenos se conscientizarão de que não estão de férias. E tenham motivação para estudar em casa, enquanto as aulas são suspensas.

O Governo de Pernambuco, por sua vez, ainda discutia, hoje à tarde, como fazer o mesmo na rede estadual de ensino, o que exige uma logística muito mais complicada. Afinal, se o Recife possui 90 mil alunos e 315 escolas, esses números ganham outra dimensão em se tratando dos colégios estaduais: eles somam 1.060 unidades  e  mais de 500 mil estudantes. Nas ruas do centro comercial de Casa Amarela, na Zona Norte, vendedores informais mostravam a mesma preocupação  com a  realidade da fome, cada vez mais próxima, já percebida pelo casal do centro. “A rua está vazia, o povo só pensa em comprar comida, para não ficar sem ter o que comer se não puder sair de casa”, concluía, Amaro José da Silva, que até meio dia não tinha conseguido vender uma blusa sequer. “Os trabalhadores informais estão sofrendo horrores”, concluiu Alexandre, em postagem em suas redes sociais. Enquanto isso, os supermercados estavam entupidos. A impressão que se tinha, pelo menos nos da Zona Norte, é que as pessoas estavam se preparando para a guerra. A partir de amanhã, os shopping-centers do Recife alteram os horários. Começam a funcionar ao meio-dia e fecham às 20h. E no Recife, não pode mais haver eventos com mais de 50 pessoas. Antes, eram 500.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Andréa Rego Barros / Divulgação/ PCR

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