O lado “humano” dos macacos

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Uma das maiores especialistas em primatas do País, a professora Maria Adélia Oliveira informou hoje que os primatas estão entre os animais que mais absorvem repertório comportamental, baseado no aprendizado. Ou seja, quanto mais tempo eles passam ao lado dos homens, mais difícil se torna a sua readaptação à vida selvagem. Em Pernambuco, atualmente há cerca de  70 primatas abrigados no Centro de Triagem de Animais Silvestres da Cprh (Cetas Tangará), e os esforços são para que os animais retornem em prazo curto ao habitat, de onde foram retirados. Destes, 40 são saguis, ainda muito comuns em Pernambuco, inclusive em áreas urbanas do Recife, onde aparecem frequentemente em bairros como Poço da Panela, Casa Forte, Apipucos, Dois Irmãos, Sítio dos Pintos, Graças, todos na Zona Norte.

“ Há animais que possuem comportamento instintivo e retomam a vida silvestre depois que deixam o cativeiro. Não é o caso dos primatas, que aprendem tudo rapidamente com os primatas humanos, pois possuem apurada inteligência cognitiva e emocional ”, revela Adélia. Ela conta as dificuldades de reintroduzir esses animais às matas. “Eles convivem conosco, se apegam aos tratadores e criam laços que se fortalecem”, ressalta. Ela fez as colocações durante palestras na Universidade Federal de Pernambuco, onde se encerra hoje seminário dentro da programação da Semana de Biodiversidade de Pernambuco. Em Pernambuco, atualmente há cerca de  70 primatas abrigados no Centro de Triagem de Animais Silvestres da Cprh (Cetas Tangará). E os esforços são para que os animais retornem em prazo curto ao habitat, de onde foram retirados. Destes, 40 são saguis, ainda muito comuns em Pernambuco, inclusive em áreas urbanas do Recife, onde aparecem frequentemente em bairros como Poço da Panela, Casa Forte, Apipucos e Dois Irmãos, todos na Zona Norte.

Maria Adélia Oliveria, professora da UFRPE é bambambã em primatas e falou hoje sobre eles na Ufpe.  (FP)

No Cetas Tangará, há, também, macacos do tipo prego abrigados, tanto da caatinga quanto da Mata Atlântica (onde enfrentam risco de extinção). Para retornar às matas, os primatas passam por três protocolos – sanitário, genético e fenotípico – procedimentos que devem ser agilizados, para que  voltem, o quanto antes, às matas de onde vieram (de onde  são retirados por tráfico de animais silvestres, resgate de voluntários em áreas urbanas, por doença ou confinamento doméstico). “A hospedagem nos centros de reabilitação não pode ser demorada, porque quando convivem conosco se tornam “humanos” adquirindo nosso comportamento”, explica Adélia. E acrescenta: “Alguns jamais poderão ser novamente liberados, porque não saberiam como se adaptar de novo ao ambiente silvestre”.  Não sou especialista, mas convivo muito com os primatas. Principalmente na minha residência, em Apipucos, onde aparecem muitos saguis, com quem mantenho relação carinhosa e afetiva.  Eles até entram em casa para pedir comida. Se deixar, vão à mesa pegar pedaços de pão. Já flagrei um casal namorando na rede da varanda. Pareciam dois namorados humanos, abraçados.

O que acho interessante é a expressão dos olhos desses graciosos animais, aos quais costumo dar mimos como frutos, principalmente bananas. Um dia, eu não tinha bananas. E aí, cortei melancia e coloquei para eles. Foi curioso. Era um grupo de oito. E eles se comunicavam entre si, como quem dizia. “A gente come ou não?”. Olharam para mim em sinal de reprovação porque não tinha bananas. E começaram a comer os pedaços de melancia na mesma hora, como se tivessem feito uma “assembleia” para tomar a decisão. Mas as expressões eram de humanos contrariados. Tanto que deixaram muitos restos, ao contrário do que ocorre com a outra fruta, me provocando a indagação: será que eu não devia ter dado esse alimento? Pelo que sei, a gente deve evitar produtos industrializados, biscoitos, chocolates, iogurtes. Mas tem quem dê. Já vi. Aqui no bairro mesmo. Quanto aos saguis, adorooooo. E conheço até alguns, inclusive um que “dialoga” comigo desde bebê, e que tem um defeito na mão esquerda. Cresceu, está sadio e consegue pular de galho em galho. Eles são tão expressivos, que – às vezes – tenho a impressão que até entendem o que falo. E viva a natureza.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins  e Francis Palhano/ Divulgação/ Cprh

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