“Vamos festejar seguros / O anarriê é mais para trás / E o balancê é solitário porque a vida vale mais”. Em tempos de pandemia e isolamento social em que Pernambuco não terá festejos juninos pela primeira vez em sua história, acaba de ser lançado o livro digital Um balancê diferente, no qual se ressalta a importância de evitar fogos e fogueiras em 2020, tradições ainda muito comuns no Nordeste, nessa época do ano. Com a Covid-19, a fumaça pode deixar em situação ainda mais desconfortável aquelas pessoas atacadas pelo coronavírus, e que passam por dificuldades respiratórias. Mas o livro é mais do que isso. Não se limita à questão sanitária, mas também aos problemas ambientais provocados por fogueiras e fogos. Como ficam a fauna e a flora com eles?
Graciosamente ilustrado, o livro fala da festa popular, dando voz a animais como papagaios, corujas, preguiças e macacos sofrem com explosões. Ou seja, os personagens são bichos que falam em favor de vidas humanas e também comentam sobre o próprio sofrimento: o desabrigo, por conta da derrubada das árvores, a fumaça das fogueiras e dos fogos. Estes, inclusive, provocam barulho que representam desconforto maior para os animais do que para os humanos. “E se os animais falassem / E você pudesse entender / Ouviria muitos pedidos / Como estes que vamos fazer/ Balões, fogueiras e fogos/ Para eles sofrimento / Vejam o que sentem os animais / E dê a eles um alento”, apela o livro. Em seguida, mostra o que cada animal sentiria nas barulhentas noites juninas.
“Eu passo a noite acordada / Ouço mais que os humanos/ Os fogos de artifícios / Eles causam muitos danos”, apela a coruja, que tem audição muito sensível. “Dos fogos que já soltaram ? Grande susto eu levei / Caí de galho, de galho / E quase surda fiquei”. Já o papagaio verdadeiro se diz atingido por um incêndio, na floresta onde vive: “Um papagaio solitário / Que sua família perdeu? Pede que não soltem balões / Pensem no que lhe aconteceu”. A preguiça, mamífero ainda comum em Pernambuco, também entra na conversa, para recomendar “com mansidão”, um São João sem fogueira, fumaça nem fogos.
“Olhando uma fogueira / Veja a árvore tombada/ Pense nos meus amigos / Pois a árvore é morada”, lembra o mamífero, que leva a vida no alto das árvores, de cujas folhas se alimenta”. O livro tem texto de Franci Palhano e ilustrações de Ricardo Wanderley. A iniciativa é da Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh). E está disponível no site da Cprh (www.cprh.pe.gov.br). Trata-se de uma boa aula de educação ambiental, principalmente para crianças. O livro está uma graça. As autoridades pernambucanas já determinaram que neste São João não haverá quadrilhas, arraiais, fogos, nem fogueiras. Tudo para não prejudicar pacientes da Covid-19. “Tem também a questão dos animais silvestres e o próprio desmatamento para a queima das árvores, afirma o diretor-presidente da CPRH, Djalma Paes.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Cprh / Divulgação