Bom exemplo, o de um grupo de moradores do Morro da Conceição. Eles somam dez, e estavam cansados de ver, todos os dias, o descarte indevido de lixo em uma das extremidades da Praça onde fica o Santuário. Tudo na frente da casa deles. Era mau cheiro, rato, cachorro espalhando os detritos, a maior sujeira. Um final de semana, colocaram mãos à obra. Recolheram o lixo, fizeram canteiros com pneus, e ocuparam o espaço com latas com plantas. Até um pé de milho foi semeado.
Pois hoje, seis meses depois, ninguém se atreve mais a botar lixo no local. “No começo, a turma chiou. Queria o lugar livre prá botar lixo aqui o tempo todo”, afirma o serralheiro Manoel da Silva Ferreira. Foi ele quem abriu os pneus e pintou de azul, para transformá-los em um pequeno jardim com forma de flor. “Desde que a gente ocupou esse espaço com plantas, que ninguém mais botou lixo aqui”, comemora o servidor público Djalmiley Herculano da Silva.

“Mas infelizmente tem gente que está jogando do outro lado da Praça”, entrega. O pior é que a coleta da Prefeitura passa no local. Hoje mesmo um caminhão da Emlurb recolhia montanhas de detritos colocados em local inadequado, no outro lado. Para conscientizar a população, os moradores ainda botaram uma plaquinha em uma árvore, com uma frase educativa. “Praça limpa, povo educado. Colabore”.
Os cidadãos que implantaram a iniciativa conversavam hoje, em mesinhas de concreto que foram colocadas no local. “Esses equipamentos foi a Prefeitura que implantou, mas por pedido da comunidade”, lembra Herculano, que todos os dias passa no jardim, para observar se a população está cuidando das plantas e evitando jogar lixo. Ele disse que a iniciativa começa a contaminar outras ruas, como a Lucélia, também no Morro, onde em uma das esquinas os moradores implantaram outro jardim.

Segundo Heraldo e França Pinto, há outros locais nos altos do Recife onde a população está seguindo esse tipo de iniciativa espontaneamente, como forma de enfrentar e combater o descarte de lixo em locais inadequados. “Tenho visto jardins desse tipo, feitos pela população em áreas como o Alto da Foice e o Córrego do Euclides”, diz. Os moradores dos altos acreditam que se houver um container, em locais de acúmulo de lixo, as pessoas não jogarão os detritos no meio da rua, mas no coletor. O problema, dizem, é que quando há esses equipamentos, o caminhão do lixo demora mais a passar, o que provoca aumento da fedentina, e a proliferação de ratos, baratas e escorpiões. “O bom mesmo é todo mundo colaborar, a povo e a prefeitura”, diz Manoel. Ela só lamenta que o pé de milho “não vingou”.
Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife
Esse projeto já existe na Mustardinha há alguns anos. Chamamos Jardim do Lixo.
Que bom, Angélica. Mas no caso do Morro nem foi projeto não. As pessoas se juntaram e plantaram, assim, espontaneamente. Esse da Mustardinha me interessa. Vc tem endereço e contato? Obrigada.