Quem olhar as fotos desse post, vai perceber a diferença. De um lado, muito lixo, na margem do Capibaribe. Depois, aparece uma faixa tomada por jarros, plantas e flores. Nenhuma metralha, nenhum saco plástico, nem tralhas. Anda-se mais um pouco pela calçada da Rua Leonardo Bezerra Cavalcanti, que margeia o Rio e o que se percebe, é lixo outra vez. Inclusive metralhas deixadas pelas prestadoras de serviço da Prefeitura, que ali estão desde a construção da calçada que, antes, era só buracos. Pois esse “jardim” particular tem um responsável: Manoel Horácio Torres, 63, dono do Lojão das Plantas, que fica naquela artéria, perto do Shopping Plaza. Horácio tem amor às plantas desde criança. O pai tinha uma sementeira na Rua Santo Elias, e ele cresceu entre rosas, margaridas, papoulas, helicônias, e mudas de fruteiras. Horácio tem treze irmãos e todos gostam de plantas. Um tem uma sementeira, no Brejo, na Zona Norte. O mais famoso deles, Todo Duro, também gostava de curtir o verde, mas trocou os jardins pelo ringue, onde costuma “estraçaiar” os adversários.
Todo Duro à parte, por que falamos de Horácio? Eu o encontrei em uma barraquinha, vendendo suas plantas na Festa da Vitória Régia,em Casa Forte. Depois de conversar com ele, resolvi registrar sua história. Morando e trabalhando defronte do Capibaribe, cansou de ver carroceiro, caminhão, carro de luxo parar para despejar lixo no Rio. Cansou de reclamar, mas ouvia muito desaforo. Chegou a ter medo de ser agredido. Então, resolveu atravessar a rua, para ocupar o espaço. Foi o que fez. “A loja estava ficando pequena para tantas plantas e eu não aguentava mais ver o rio ser tão agredido”, conta. “Mas desde que botei os jarros lá, ninguém mais parou o carro para sujar”, orgulha-se. Sem querer, Horácio virou um bom exemplo de apropriação sadia do espaço público.
Porque eu, que caminho sempre por aquela via, vejo a diferença entre as faixas vazias (entupidas de lixo) e as preenchidas com os jarros do Lojão. Em gestões anteriores, ele chegou a ser intimado para desocupar o espaço. “Me pressionaram muito, mas se eu saísse, o lixo tomava conta”, relata. Depois, deixaram de reclamar. O lojão fica ao lado do poluído Canal do Parnamirim, outrora um riacho que cortava vários bairros. Mas ele conseguiu humanizar o canal. “A lixeira ali também era grande, mas gastei R$ 30 mil para fazer uma muralha, onde coloquei plantas e ninguém suja mais.”, comemora. Viva Seu Horácio. Sem ele, a margem do Capibaribe seria um lixo só. #OxeRecife aplaude a iniciativa do nosso jardineiro.
Observe a diferença entre a faixa ocupada pelas plantas de Horácio e aquelas que estão sob manutenção do poder público. Clique na foto que quiser ver ampliada.