O “canteiro” da discórdia na Av. Norte

Estive caminhando pela Avenida Norte, que virou alvo de polêmica nas redes sociais, devido à intervenção ali efetuada pela Prefeitura, na qual vêm sendo investidos R$ 2.854.337.  E o povo tem razão de reclamar. Está certo que os famigerados gelos baianos degradam a paisagem do Recife e têm mais é que ser removidos mesmo. Na obra em questão, serão retirados 3.400 blocos de concreto daquele que é um dos principais corredores viários da cidade. Mas vêm sendo substituídos por um “canteiro central” que de canteiro só tem mesmo o nome. Mais parece um paredão, com altura que atrapalha – quando não impede – a acessibilidade de pessoas idosas ou com dificuldade de locomoção.

Testei a travessia – e olha que ando muito – e achei complicada demais. Também vi pessoas com dificuldade para ir de um a outro lado da pista. Foi o caso de Aderbal Andrade da Silva, 81, residente há mais de 50 anos na Rua Monte Pavão, quase defronte ao Parque Urbano da Macaxeira. Ele costumava caminhar no Parque. Desistiu. “Está muito difícil chegar ao outro lado. Boto um pé em cima do canteiro, e apoio a mão no outro joelho para conseguir subir, para ter força para puxar a outra perna”. Ele afirma que para descer, a dificuldade é ainda pior. “Tem que ser muito devagar”, disse ao #OxeRecife. “Se eu não tiver cuidado, posso até cair”, relata. Aderbal está usando os blocos de gelo baiano que ainda restam na pista, para se apoiar, quando desce do “canteiro” central. E acha que quando forem retirados, não terá como “escalar” o obstáculo para chegar ao outro lado. “Quem fez essa obra não pensa na gente não”, reclama o  idoso.

Há 50 anos residindo na Macaxeira, Aderbal  (81)  mal consegue fazer a travessia para ir ao Parque em frente.

A impressão que se tem é que a intervenção foi planejada e idealizada pela ótica só do automóvel, como muitas outras efetuadas no nosso Recife. Infelizmente. Ninguém pensou em facilitar a vida de ciclistas. E muito menos de pedestres. Há residências dos dois lados da pista, e as pessoas necessitam da travessia. Quem vem andando da BR-101 – no sentido subúrbio-cidade, precisa caminhar por mais de 15 minutos  para chegar, enfim, ao primeiro semáforo. Ele fica à altura da Rua Maria Amália, na Macaxeira.  Coordenador do Instituto Casa Amarela Saudável e Sustentável (Icass), Vandson Holanda informa que em reunião realizada nesta semana, moradores daquele bairro da Zona Norte decidiram entrar com solicitação de suspensão da obra na Prefeitura. Eles querem que ela seja repensada.

“É uma obra completamente equivocada, pois foi idealizada para automóveis. Não pensaram no pedestre nem no ciclista”, diz ele. E lembra que a nova iluminação em implantação no canteiro central só vai beneficiar os automóveis que passam dos dois lados da pista. “O que não deixa de ser um anacronismo”, reclama. “A população paga imposto, mas a Prefeitura só pensou na iluminação para os carros”. A Avenida Norte tem nove quilômetros de extensão, e une o bairro de Santo Antônio (à altura da Ponte do Limoeiro) à Macaxeira (na Zona Norte). A intervenção feita pela Prefeitura consiste em construção de um “canteiro central”, retirada de gelos baianos e colocação de 266 postes,  com fiação embutida. Eles ficam no meio da pista, e terão iluminação de LED. No trabalho, estão sendo utilizados 31,2 quilômetros de fios. O custo total de quase R$ 3 milhões, no entanto, não contempla as calçadas da via, que estão um verdadeiro horror.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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