Ia fazendo minha caminhada matinal, quando encontrei Ranúsia Araújo da Silva diante de um dilema, na Avenida Dezessete de Agosto. Como se locomover em um espaço de calçada de menos de três palmos de largura? Espaço este drasticamente reduzido com a presença de um poste mal localizado. Ou seja, quem instalou o poste – Prefeitura ou Neonergia, não sei – não pensou no pedestre. Principalmente em pessoas obesas ou com algum tipo de deficiência motora, caso de Ranúsia, que precisa de um par de muletas para andar.
Ao chegar na calçada da Vivenda José y Alda Carrera, ela me fitou com um olhar de descontentamento. Por uns minutos, parou, e ficou sem saber o que fazer. Descer a calçada com apoio das muletas e disputar espaço no asfalto com os carros, ou tentar se espremer entre o poste e o muro do prédio, e seguir caminho. Desanimada, apoiou as muletas no próprio corpo, espremeu-se entre o poste e o muro em que se apoiava, e olhou para mim. “Fotografe, pode mostrar minha dificuldade. Essa não é a única que a gente encontra nas calçadas, mas é um dos espaços mais estreitos”, reclamou ela, que reside no Alto José do Pinho, e viu quando puxei o celular para documentar sua dificuldade. Ranúsia só tem reclamação das calçadas por onde precisa passar. Ou seja, acessibilidade quase zero.

Também fiquei indignada, e solidária com a até então desconhecida. Como é que uma construção avança daquela forma até a calçada, dificultando a locomoção pedestres e atrapalhando mais ainda a vida de PDCs? E ainda ganha um poste que atrapalha qualquer caminhante? Cadê o direito à acessibilidade? Em 2017, eu já falava aqui nesse espaço dessa dificuldade naquele endereço. Se a construção avançou até a calçada, por que, pelo menos, o poste não foi removido para outra área?
Há outros exemplos de calçadas tomadas por muros, degraus, rampas na Dezessete de Agosto, como o do casarão antigo da foto acima ( 2541 ), que fica junto ao Edifício Arthur Bruno Schwambach (2549 ), ainda em construção.
Atualmente em processo de restauração, o antigo imóvel provavelmente é anterior à urbanização da avenida e, por esse motivo, está fora de linha já que sua construção data de época que aquela via nem asfaltada era. Mas o que dizer do edifício Vivenda e do poste, já que a edificação é bem mais recente que o casarão? Em frente ao número 2541, no entanto, provavelmente Ranúsia teria uma dificuldade menor do que a anterior, já que há uma rampinha que pode facilitar a sua locomoção. Mas o espaço entre o degrau de entrada na casa e o meio-fio é muito estreito, e não comporta um cadeirante, por exemplo. Uma cadeira de rodas, ali, não tem como passar. O cadeirante vai ter realmente que ir para o asfalto, o que é perigoso.

Voltando da caminhada, no sentido centro subúrbio, me defrontei com essa cena da foto dessa árvore, aí acima. E já é a segunda vez que mostro essa dificuldade. Nada contra a árvore. Pois o anel de concreto em seu redor, deixava um espaço entre o canteiro e a mureta da Praça, que dava para uma pessoa passar sem risco de acidente. Mas agora… temos uma calçada absolutamente sem espaço, entre a árvore e a Praça de Apipucos.
Como vocês podem observar na foto, o canteiro em concreto da árvore está desmoronando. E com as pedras do caminho, não sobrou lugar para a uma pessoa passar. Tem gente indo pelo asfalto, ou escalando essas pedras sobrepostas na calçada. Sinceramente, andar a pé no Recife está cada vez mais complicado. Cadê o Programa Calçada Legal? …
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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife