Inaugurado em 1875, monumento nacional e ponto de visitação turística, o Mercado de São José é o primeiro exemplar de mercado pré-fabricado em ferro fundido no Brasil e, portanto, uma relíquia mundial da chamada arquitetura de ferro. Sua parte estrutural foi toda importada da França, de onde o famoso Mercado de Grenelle serviu de inspiração. Quem vê o São José à distância se encanta não só com os produtos de todos os tipos ali vendidos, como também com a sua imponência. Visitá-lo não deixa de ser um programa obrigatório, para quem passa pelo Recife.
Afinal, os mercados públicos são uma espécie de radiografia da cultura das cidades onde eles se localizam. E o de São José é o pai de todos eles. Mas é muito triste chegar lá. Estive no domingo passado no local, durante um dos percursos das nossas Caminhadas Domingueiras. E, confesso, fiquei triste com o que vi. Mesmo sendo um domingo, com a Praça Dom Vital vazia, e sem a superlotação de camelôs nas calçadas que o circundam, a sensação que tive é de que aquela área está renegada ao mais completo abandono. O que não é surpresa em se tratando da gestão do patrimônio público do Recife, cujos gestores parecem não ter nenhum ou pouco zelo com a história. O que vi foram barracas infectas ao seu redor. As calçadas mal servem para se andar.
A outrora exuberante Praça Dom Vital virou um terreno malamanhado, sem gramado, com buracos na areia (que parecem tocas de tatus). E lixo, muito lixo. Tive o cuidado de ouvir três turistas que estiveram nesta semana no Mercado. “Não conhecia o Recife e achei a cidade linda. O seu mar é muito azul, a cidade tem rio, belas pontes”, afirma a dona de casa Edna Ferreira de Lima. “Estive no Mercado de São José que é muito bonito, mas a área ao seu redor está muito detonada, havendo calçadas que nem se consegue andar”, diz. Maria Luiza Magno dos Santos, mãe de santo conhecida como Mãe Tutu, também visitava a cidade pela primeira vez. “O Mercado tem peças bonitas, artesanato com preços atraentes, mas está tudo muito deteriorado”, afirma. “É tudo muito sujo. Há lugares onde há tanta sujeira acumulada nas calçadas, que a gente tem que andar pelo asfalto”, completa a professora universitária Helena Gonzaga Lima de Souza. As três residem em São Paulo.
Turismólogo e amigo das três, o também antropólogo Fernando Batista confessou ao #OxeRecife que hesitou em levar as turistas àquele que deveria ser uma das atrações tratadas com maior carinho no Recife. “Eu não pretendia levá-las ao Mercado de São José, sabendo da situação crítica em que ele se encontra”, confessa. “Mas resolvi enfrentar a sujeira e o retrato do abandono, porque se todo mundo se afasta, o local fica ainda mais esquecido”, acrescenta. “A gente vai, e acaba com convicção mais forte nas críticas aos gestores”. Ele lamenta que não só o Mercado de São José, mas toda aquela área esteja tão abandonada. “É um quadrante muito importante naquela região que, por desleixo das autoridades, é subutilizada por quem vem de fora”. Ele lembrou que ali perto ficam a Igreja da Penha, Pátios (Carmo, Livramento, São Pedro e Rosário) com seus templos seculares. “São todos locais lindos, mas muito maltratados”.
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Texto e foto: Letícia Lins / #OxeRecife