Na década de 70 do século passado, quando o Brasil vivia sob ditadura e a população não podia se manifestar, o carnaval virou um meio de protestar. Foi assim que nasceram blocos e troças como O Bêbado e o Equilibrista, Sai na Marra, Acho é Pouco, Nóis Sofre Mais Nóis Goza, esse formado por intelectuais e profissionais liberais que frequentavam a Rua Sete de Setembro, onde ficava a Livraria Livro 7.
A Livro 7 fechou, mas a troça permanece. E a partir das 13h do Sábado de Zé Pereira se concentra naquela via, para fazer o seu desfile, sem compromisso com nada, só mesmo com o frevo e o carnaval. Em 2017, eu estava com o pé imobilizado, com botinha – por conta de fratura provocada por uma calçada assassina – e fui, apesar do pé machucado. Porque o lema do bloco é esse mesmo: “Nóis Sofre Mais Nóis Goza”, assim mesmo, com o “I” no que deveria ser o mas, porque a agremiação é assim mesmo, esculhambou geral. Nunca cresceu nem virou comércio. E o propósito é só brincar mesmo o sábado de carnaval.
Esse ano, o homenageado é o pintor Marcos Cordeiro. Ele é um dos fundadores do Nóis Sofre, o que fez juntamente com o pintor Wellington Virgulino e o sociólogo Roberto Aguiar (ambos já falecidos), e também com o professor Roberto Pimentel e o poeta José Mário Rodrigues. O nome da troça surgiu a partir do desabafo de um folião, ao encontrar o quarteto durante o desfile de um bloco, na Avenida Guararapes. Ele disse: “Nóis sofre mais nóis goza”. Em 2018, o Nóis Sofre recebe uma visita muito especial: Maestro da Orquestra de Granada, na Espanha, Israel de França. Ele vai dar um show de frevo ao violino, pouco antes da saída da agremiação, que será animada pela Orquestra Harmonia.
Leia também:
Afoxés e maracatus no Marco Zero
Arsenal tem 18 trios de caboclinhos
Cobra Coral fuma com os Barba
Blocos tomam o Pátio de São Pedro
Compre a fantasia perto da folia
É frevooooooooooooooooooooooooo
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação/ Nóis Sofre Mais Nóis Goza