O Dia da Amazônia não poderia passar em branco no #OxeRecife, cuja titular ama as árvores, os animais, os rios e mares. E também é apaixonada pela maior floresta tropical do mundo, onde se encontra a maior biodiversidade do Planeta, infelizmente sofrendo incêndios e cada dia mais vulnerável à ação criminosa de grileiros e madeireiros. Esse povo lá de Brasília precisa se conscientizar de que a floresta vale muito mais em pé do que deitada, não é não? Nesse Dia 5 de setembro, nada como presentear os leitores com algumas imagens da lindíssima Floresta Nacional do Tapajós, a Flona, onde estive no final do ano passado em busca da paz longe da cidade grande, no convívio com o silêncio e os aromas da natureza. A Flona é bem “pequenininha”, possui nada menos de 527.319 hectares, 160 quilômetros de praias de águas fluviais, e se estende por quatro municípios localizados no Oeste do Pará: Aveiro, Belterra, Placas e Rurópolis.
Em seus limites, residem 1.050 famílias, cerca de 4 mil pessoas, divididas em 23 comunidades. Há no seu território, ainda, três aldeias indígenas. Estive na Flona em novembro de 2018, onde fiz uma trilha de nove quilômetros entre árvores seculares, tendo um nativo como guia. Por sinal, um guia maravilhoso. Nascido e criado na comunidade, Luís Fonseca conhecia como ninguém os segredos da floresta. Olhei tanto para o alto, que – desastrada como sempre – tropecei em um emaranhado de raízes e cortei o joelho nos tocos espalhados pelo chão. Imediatamente, ele pegou raízes, flores e folhas, e esfregou na ferida. Como não tinha malinha de pequenos socorros, respeitei a sabedoria popular. O fato é que o corte estancou logo e não tive a menor inflamação depois. O joelho só seria lavado em um igarapé, pelo menos quatro horas depois.
Confesso que, no início, no meio daquela mata tão desconhecida para mim, me senti meio sufocada, logo ao entrar na floresta. As faixa de mata primária me deram a sensação de um ar sufocante ao ponto de pensar que não conseguiria terminar a caminhada. Mas fui, assim mesmo. Ao chegar na mata primária – aquela área virgem, original, ainda não violentada pelos homens – o clima mudou, a respiração ficou fácil, uma deliciosa sensação de bem estar, apesar do cansaço e da queda provocada pelo meu deslumbramento. Ao longo do caminho, Luís foi desvendando tantos mistérios que, de alguns deles, nunca me esqueci. Mostrou a carnapanaúba (que o caboclo usa para aliviar os sintomas da malária). Nos mostrou o piriri (para dor de barriga), a supupema (que os homens da mata usam para se comunicar, e por isso a chamam de telefone da floresta).
Passou por uma série de palmeiras – incluindo a famosa açaí – e contou alguns fatos totalmente novos para mim, como raspas perfumadas de alguns caules e até mesmo formigas cheirosas (não sabiam que existiam). Também há folhas, como a capunga, que têm utilidade conhecida na Região Norte: também é chamada de “alumínio da floresta”, poque é usada para embalar o peixe, quando este vai ser assado na brasa. Também ganhei uma saia igual à utilizada pelas indígenas, feitas com folhas de palmeira e vi uma flor (foto na galeria), apelidada de “mata calado”, porque é venenosa e da qual ninguém ousa tomar o chá. “Bebeu, morreu”. Também fui convidada a experimentar um enroladinho parecido com um pequeno pedaço de cipó, que chamam de “cigarro de índio”. Alguns turistas alemães que faziam a mesma trilha comigo fumaram. Como não costumo aspirar fumaça nenhuma – nem mesmo de cigarros convencionais – não quis experimentar a versão mata amazônica do hábito de fumar. Temi passar mal ou ficar doidona. Sim, ainda encontrei um cacau da floresta que, segundo o guia, pode produzir um pó semelhante ao do chocolate ofertado pelo cacau (para nós) comum. No fim, a atração maior da Flona: a sumaúma gigantesca, que nos mostra toda a grandeza da natureza e que é carinhosamente chamada de “Vovó”. Uma vovó linda!
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Fernando Batista