Teve um tempo, em que os prédios eram raridade em grandes cidades, como o Recife e Salvador. A maioria da população morava em casas, com grandes quintais com fruteiras e animais domésticos. Entre estes, estavam os jabutis. Eles viravam bichos de estimação. Também havia uma crença popular, segundo a qual quem tivesse o quelônio estaria livre de doenças infecciosas, como a erisipela. Até intelectuais famosos – como Gilberto Freyre e Jorge Amado – tinham esses bichinhos em casa que, inclusive, sobreviveram às mortes de seus donos.
Estão aí Chiquinho e Frederica, que pertenceram ao autor de Casa Grande e Senzala e que, ainda hoje, transitam livremente pela Fundação que leva o nome do escritor, no bairro de Apipucos, Recife. Em Salvador, na Casa do Rio Vermelho, onde morou Jorge Amado, também é fácil encontrar exemplares da espécie, desfilando pelos lindos jardins da residência museu do autor de Gabriela. No Brasil o jabuti ainda não entrou na lista dos animais ameaçados, talvez por descuido de nossas autoridades. Isso porque a espécie já é citada na lista do Cites (Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies da Fauna e Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção). O animal é muito visado pelo tráfico internacional. No Recife, ainda pode ser comprado no mercado negro, em locais próximos a alguns mercados públicos, que comercializam animais.
Leia também:
Não confunda rato com timbu, que é marsupial e semeador
Árvores queimadas matam tamanduá
Pois vejam que notícia boa. Foi encontrado embaixo de um umbuzeiro, um ninho de jabutis, com cem filhotes, no município de Salgueiro, a 518 quilômetros do Recife. Eles estão em área de soltura monitorada pela Agência Estadual de Meio Ambiente (Cprh). É o primeiro registro de reprodução da espécie, naquela área monitorada pela Cprh. Ainda hoje, há quem queira criar jabutis, como animais domésticos. Nada mais equivocado, pois esses bichinhos têm importante papel na natureza. Eles atuam como semeadores, porque se alimentam de frutas e descartam as sementes, que brotam ao cair no solo. Os jabutis libertados no Sertão passaram pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres de Pernambuco (Cetas Tangara), da Cprh, que já devolveu à natureza, além de jabutis, várias espécies de aves, papagaios e gatos-mourisco, entre outros animais.
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Cprh