A mulher na paisagem do Recife

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Esse céu colorido, cheio de sombrinhas de frevo (aquela explosão de alegria que todo mundo conhece) é para saudar todas as pernambucanas no Dia Internacional da Mulher. Apesar do carnaval ter passado, elas estão lá, alegrando a Praça do Arsenal. Foi no local que me juntei a um grupo do Olha! Recife, para fazer o roteiro da quarta-feira, sobre a presença da mulher na  paisagem da nossa cidade. Ou melhor, em ruas, praças, jardins, em bairros como o do Recife Antigo e o de São José. O Recife possui 8.474 ruas. Somando com praças, becos, jardins, pátios, são mais de 10 mil logradouros. “Mas, infelizmente, só cinco por cento desse total possui nome de mulheres, e normalmente são esposas de alguém”, comenta Cristina Bisch, a guia do Olha! Recife, programa de sensibilização turística da Prefeitura, no qual passei ontem toda a tarde.

Nossa primeira parada foi na Rua da Guia, onde há um prédio do Porto Digital com o nome de Cristina Tavares, ex-jornalista, ex-deputada, militante de esquerda durante a luta contra a ditadura e que morreu precocemente devido a um câncer. Ela ganhou homenagem por méritos próprios. Mas Dona Maria César, que nomeia a rua seguinte, eu mesma não sabia quem é. “Foi esposa de João Fernandes Vieira, português radicado em Pernambuco, senhor de engenho e que lutou contra os holandeses”. Andamos mais um pouco e chegamos à Ponte Maurício de Nassau, construída em 1917 e que possui quatro alegorias femininas em suas cabeceiras, representando o Comércio, a Justiça, a Agricultura e a Sabedoria. Novas  explicações, sobre a origem das estátuas.

Artista português fez obra de arte em parede degradada de edifício em São José: homenagem a professora de aldeia.

Atravessamos a ponte, e rumamos para o Cais de Santa Rita. Aí, sim, vi uma coisa que para mim foi novidade. Nunca tinha notado. É que em uma lateral do prédio São Jorge – que fica na esquina da Rua da Praia com a Travessa do Arsenal da Guerra, há uma obra de arte gigantesca, no caso a cara de uma mulher, produzida pelo artista e grafiteiro português Alexandre Farto. Ele utiliza grandes espaços e, aproveitando-se das imperfeições das paredes, cria monumentais obras de arte. No Recife, deixou o registro do rosto de uma professora de uma aldeia indígena, no bairro de São José.

Dali, andamos pela Praça Dom Vital, passamos por ruas estreitas como a Águas Verdes, a Direita, a Vidal de Negreiros e chegamos ao Pátio do Terço, onde  nos foram lembradas duas grandes mulheres, que são referências na cultura negra em Pernambuco: Badia e Dona Santa, ambas descendentes de africanos. Badia, obejidê, ficou famosa pelo Axé das Tias, casa em que morava no bairro de São José, onde reverenciava os orixás. E Dona Santa é, até hoje, a mais cultuada rainha de maracatu que Pernambuco já teve. Bom, foi esse o passeio que fizemos dedicado à presença da mulher em nossas ruas. Não fomos à Praça Maciel Pinheiro, onde morou Clarice Lispector, mas também foi feita uma referência à autora de “A Paixão segundo G.H. E viva as mulheres.

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Texto e fotos: Letícia Lins / #OxeRecife

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