Lindo, imponente e tido como uma das principais atrações do zoológico que funciona no Parque Estadual de Dois Irmãos, no Recife, o leão Léo morreu neste sábado (16/01) no Recife. Mas não foi de Covid-19, doença que tem sido observada em animais em alguns zoológicos espalhados pelo mundo. Léo sofria de câncer na mandíbula e uma metástase comprometeu suas funções hepáticas. Ele vinha sendo cuidado por uma junta de especialistas, e tratado com remédios homeopáticos e medicina chinesa. Com 21 anos – idade avançada para a espécie – a cirurgia para retirada dos tumores não era aconselhada, porque ele poderia não ter resistido à anestesia.
“Infelizmente, como havíamos comunicado anteriormente, este tipo de neoplasia é a maior causa de morte entre os felinos abrigados sob os cuidados humanos, e não conseguimos reverter o seu quadro, apesar de todo empenho da equipe técnica envolvida”, afirma Márcio Silva, médico veterinário e gerente técnico científico de fauna do Zoológico. Léo havia comemorado seu último aniversário no dia 30 de dezembro do ano passado, quando ganhou um presente bem especial: picolé de sangue, junto com uma caixa de carne. Desde quando foram notados os primeiros sinais da existência de um problema e a realização de exames, o Parque de Dois Irmãos intensificou a rotina de acompanhamento de Léo, com visitas e avaliações diárias de veterinários e biólogos, inclusive com câmeras noturnas. Tudo foi registrado em um prontuário próprio.
Léo chegou ao Parque Estadual de Dois Irmãos em 2000. Ele ficou sob os cuidados da equipe técnica durante um bom tempo num setor específico, fora da área de exibição. Isso porque ainda precisava de atenção especial após chegar de um circo bem traumatizado e com as garras arrancadas. Os pais do leão haviam protagonizado, naquele ano, uma grande tragédia, no Circo Vostok, que estava instalado em um terreno na praia de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. Eles atacaram e mataram uma criança, que estava próxima da jaula dos animais. Eles foram mortos a tiros por policiais, mas o filhote foi poupado, de onde foi recolhido para o Zoo. De acordo com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco – Semas/PE (responsável pela gestão do Pedi), o animal parece ter ficado traumatizado. Pois ficava extremamente agitado, quando via um policial fardado. Tenho uma amiga que tinha um cão. Os dois eram inseparáveis. Um dia, o animal adoeceu, e tinha que tomar injeções diárias. Ela é que levava o pet ao veterinário. Curado, o cão passou a hostilizar a dona (memória da seringa). Ele teve que se desfazer do animal. É, bicho tem memória e também reage a traumas.
Um dos primeiros técnicos a cuidar do felino no equipamento foi Dênisson Souza, que atualmente integra a equipe do zoológico. Em 2002, era estudante de medicina veterinária e atuava no local. Dênisson conta que foi logo estabelecendo uma aproximação com aquele leão assustado, mas que adorava uma atenção especial. “A amizade começou quando ele ainda era um leão juvenil. Durante o estágio, falava com Léo todos os dias, ao chegar e antes de ir embora. Assim conquistei a confiança dele”, narra. Após um período sem trabalhar no zoológico, o médico veterinário retomou as atividades no Dois Irmãos em 2009, já como profissional, e de lá não saiu mais, cuidando não só do Leão, que era o seu xodó, mas de todos os animais do plantel. E foi com esta dedicação que a relação de confiança com o animal selvagem se manteve até hoje. Quem conviveu ou presenciou alguns momentos entre Léo e Dênisson, garante que, perto do médico veterinário, o leão virava um “gatinho”.
Perguntado sobre esta proximidade, o veterinário do zoológico esclareceu: “Tinha uma relação de muita confiança com o animal. Ele permitia muito afago e encostava a cabeça na grade para ser acariciado. Várias vezes fiquei sozinho com Léo e assobiei uma música no seu ouvido. Eu ficava ali por muito tempo, coçando a sua cabeça. Era maravilhoso vê-lo descansar a cabeça na minha mão”, falou emocionado. “O diagnóstico do câncer foi um baque pesado”, afirma Dênisson, para quem foi “muito difícil” lidar com a doença do “amigo”. E completa: “A gente sabia que a partida dele era algo certo, mas nunca queríamos aceitar. Minha maior preocupação sempre foi de não vê-lo sofrer”.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Lu Rocha / Divulgação / Semas – PE