Morcegos eliminam até 82 toneladas anuais de insetos em uma caverna

Compartilhe nas redes sociais…

Eles nos metem medo, quando entram em nossas casas. Saqueiam a cozinha, comendo goiabas e bananas armazenadas em fruteiras, dão voos rasantes perto de nós e ainda deixam “carimbos” por onde passam.  Em áreas urbanas, encaramos os morcegos como pragas, quando aparecem no ambiente doméstico. Mas não é exatamente assim. É preciso que os respeitemos, pois esses mamíferos são de grande importância para a natureza.  Que seria das florestas, dos pomares e de outros plantios sem eles? E o como ficaria a agricultura sem esses animais? Além disso, há espécies que comem insetos. Estudos divulgados por especialistas, inclusive de Pernambuco, mostram que  em uma única caverna, 82 toneladas de insetos podem desaparecer por ano, porque são consumidos por estes mamíferos que nós sempre associamos a “vampiros”. Mas nem todas as espécies de morcegos se alimentam de sangue, principalmente os que habitam as áreas urbanas.

De acordo com a ONG Bat Conservation International (BCI), os morcegos contam com mais de 1.400 espécies, e são a segunda mais rica ordem de mamíferos.  Eles estão amplamente dispersos pelo mundo. Porém enfrentam ameaça “sem precedentes devido à destruição generalizada de seu habitat, às alterações climáticas aceleradas, às espécies invasoras e a outras ameaças”, segundo a BCI.  E isso é muito ruim.  Agora, cientistas tentam proteger os morcegos, através de um projeto inserido no Plano de Ação Nacional para Conservação do Patrimônio Espeleológico Brasileiro (PAN Cavernas do Brasil), que pretende testar a viabilidade de portões (bat gates) em cavidades naturais subterrâneas. A instalação é feita em entradas de cavernas e/ou minas que permitem a passagem dos morcegos, mas impedem ou regulam a entrada de humanos.

O projeto é coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (ICMBio/Cecav). A bióloga  Jennifer Barros explica  que a estratégia de instalação dos bat gates é proteger espécies de morcegos ameaçadas da perturbação antrópica, mas também proteger as pessoas, evitando sua entrada em cavernas com risco associado, como por exemplo, elevados níveis de CO2. Atualmente, a BCI atua no país com o objetivo de frear a extinção de morcegos e promover o desenvolvimento e bem-estar das comunidades humanas por meio de iniciativas de conservação. Jennifer é coordenadora da BCI no Brasil e colaboradora em algumas ações do PAN Cavernas.

“Buscamos unir objetivos similares. No PAN, uma das ideias é identificar regiões propícias para criação de áreas protegidas e instalação de bat gates. Também queremos coletar dados que farão parte da avaliação das espécies ameaçadas. Hoje, temos muitas lacunas em relação a morcegos em diferentes áreas do Brasil, então é muito importante unirmos esforços entre as instituições para desenvolvermos esse trabalho”, afirma a pesquisadora.

Os morcegos são responsáveis por importantes e valiosos serviços de polinização, dispersão de sementes e controle de populações de insetos, incluindo várias pragas agrícolas. Portanto, eles são fundamentais para o ecossistema natural e para a economia humana. De acordo com o professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Enrico Bernard, os serviços ecossistêmicos prestados pelos morcegos são de valor enorme para a população brasileira, e entre eles está a supressão de pragas agrícolas e de insetos que são vetores de doenças em seres humanos. “A agricultura brasileira, por exemplo, tem muito a perder caso essas espécies de morcegos desapareçam. Segundo nossos estudos, morcegos de uma única caverna podem retirar até 82 toneladas de insetos em um ano”, afirma o professor, que é um dos interlocutores do Pan Cavernas do Brasil.

Em relação à agricultura, Enrico explica que “só a produção de milho no Brasil hoje tem o benefício de 390 milhões de dólares por ano com a supressão de pragas, como a lagarta de cartucho e mariposas, sem contar com os benefícios obtidos pelos produtores de subsistência, que têm a ajuda dos morcegos na eliminação de insetos em suas plantações de milho, de caju, ou de mandioca, por exemplo”. Além da instalação dos portões, o PAN Cavernas do Brasil também prevê entre suas ações a realização de cursos de boas práticas de manejo de morcegos para agentes de controle agropecuário e de zoonoses, a atualização de listas de cavernas com ocorrência de espécies cavernícolas ameaçadas de extinção e a inclusão de um módulo de anilhamento de morcegos no atual Sistema Nacional de Anilhamento, até então focado em aves.

O PAN Cavernas do Brasil possui outras 43 ações. É muito  necessário que a sociedade tome conhecimento da importância dos morcegos para a natureza. E, em consequência, para a humanidade. O fato ajudou os cientistas na produção desse ingrediente. No Brasil, um outro mamífero muito mal compreendido é o timbu – também chamado de gambá ou  saruê. Geralmente confundido com ratazanas ou gabirus, o gambá presta um grande serviço à natureza, pois é predador de baratas, escorpiões e algumas espécies de cobras, como a venenosa coral. Pesquisadores da Fiocruz detectaram, por exemplo, que o sangue do gambá possui uma molécula que contém soro anti ofídico, o que explica a sua “imunidade” contra o veneno da cobra coral, por exemplo. O fato ajudou os cientistas na produção desse ingrediente

Portanto, tenhamos paciência com os morcegos e também com os gambás.

Leia também
Faltam vacinas antirrábica no estado e prioridade é para atacados por morcegos
Morcego Cego de Gilvan Lemos
Timbu, o devorador de escorpiões, baratas e até de cobra coral: não o mate
Em tempo de coronavírus, amor com o timbu
Pandemia mexe até com os bichinhos
Timbu dá cria em motor de carro
O timbu, a coruja e a cobra coral
Não mate timbu, primo do canguru
Não confunda rato com timbu, que é marsupial e semeador
Carinho com timbu
Timbu briga com perua por comida
O calvário e o resgate dos timbus
O Náutico está no sangue
Náutico, timbu e Rio Capibaribe
Fauna silvestre cada vez mais urbana

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Jennifer Barros/ BCI Brasil / Divulgação

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.