Em reforma, a primeira mais abrangente em muitos anos – as de gestões anteriores foram apenas remendos – a Praça de Casa Forte virou alvo de polêmica, por conta do sumiço de dois canteiros internos que funcionavam como pequenas ilhas, no meio de seus espelhos d´água.
Como vocês sabem, o logradouro que foi campo de batalha no século 17, é considerado jardim histórico, sendo também tombado pelo IPHAN. É que a Praça de Casa Forte foi o primeiro jardim público do Brasil a ter a assinatura do paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994). Considerado por muitos como maior paisagista do século 20, ele atuou entre 1934 e 1937 no Setor de Parques e Jardins da Diretoria de Arquitetura e Construção (DAC) do Estado de Pernambuco. Suas marcas persistem até hoje.

Nesse período implantou ou reformou várias praças, 15 das quais foram declaradas jardins históricos. Sendo que a Chora Menino, a Artur Oscar, a Maciel Pinheiro, a do Largo da Paz; e a do Derby, a Euclides da Cunha, a da República, a Salgado Filho, a Farias Neves e a de Casa Forte, foram tombadas pelo IPHAN.
Com pedras portuguesas já assentadas na atual reforma – estavam soltando e provocando acidentes entre os pedestres – a de Casa Forte era famosa no passado não só pelo seu belo traçado, como também devido à presença de espécies nativas como as da Amazônia (como o abricó-de-macaco e a Vitória Régia) e também exóticas já presentes na paisagem recifense (como o flamboyant e o felício, que também chamam de felícia).
Nesta semana, ao contemplar um quadro em escritório de advocacia no Poço da Panela, observei que a paisagem reproduzida pelo artista mostrava um canteiro central, também no espelho d´agua retangular, que fica próximo à Matriz de Casa Forte. Já uma fotografia enviada por uma amiga, no tanque redondo, na parte central da Praça, há uma pequena ilha, recoberta de aningas, que servem inclusive de pouso para as garças. Nenhum dos dois “canteiros” existem mais.
Em dúvida, fui em busca de informações de quem entende do assunto: Ana Rita Sá Carneiro, Coordenadora do Laboratório de Paisagismo da Universidade Federal de Pernambuco. Ela comandou a equipe que fez levantamento da herança de Burle Marx no Recife, e que terminou pela transformação de 15 praças em “jardins históricos”, das quais cinco foram foram tombados pelo IPHAN. No caso da Praça de Casa Forte, a reforma empreendida pela Prefeitura está correta, pois embora nos tenhamos habituado aos canteiros implantados no meio das águas, eles não eram originais.

“Essa plantação de aningas (onde está a garça na foto) foi a Prefeitura que fez há alguns anos atrás, e não é do projeto original”, diz ela, referindo-se ao canteiro do tanque redondo, que fica na parte central da Praça. “Já o do lago retangular foi retirado em 2014, e do lago redondo no ano passado. O que deve permanecer são as ninfeias, da família da Vitória Régia”, informa. Então… tá. Nada como consultar quem entende do assunto, antes de emitir alguma opinião, não é?…
Mas que os canteirinhos centrais, no meio dos espelhos d´água era bonitos, ah, eram…. como mostra a foto superior. Casa Forte deve estar no Espaço Pernambuco, transmitido no sábado (1/6) pela TV Globo, antes do NE1. O programa será dedicado a Burle Marx, e deve entrevistar Ana Rita, Maurício Cavalcanti e Lúcia Veras, autores do livro “Burle Marx e o Recife”, que mostra os jardins históricos do paisagista incluindo os seis tombados.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Luiza Leite/ cortesia e Letícia Lins / #OxeRecife