Missa para o “anjo azul do livro”

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Não foi uma luta fácil. Foram dois meses de internação hospitalar, de muitas batalhas pela vida. Mas a Covid-19 se revelou implacável. E embora o coronavírus tenha sido debelado – foram 15 antibióticos – as sequelas deixadas pela infecção não lhe deram sossego, até que Tarcísio Pereira, ex-companheiro e pai dos meus três filhos, perdeu a guerra para a pandemia.

Gostaria, no entanto, de destacar aqui a extrema dedicação das filhas Joana Carolina, Juliana e Júlia (esta do segundo casamento), que não mediram esforços para dar todo conforto necessário ao pai. Sempre presentes, tudo fizeram para amenizar o sofrimento do paciente, cuja situação se revelava grave. Deram também, todo o carinho que puderam. Comemoravam cada melhora, por menor que fosse. A esperança na recuperação manteve a família unida. Foram rezas, orações, convocação dos melhores profissionais da medicina para assisti-lo.  Só Thiago, meu filho caçula, não teve chance de ficar ao lado do pai. Não foi uma decisão fácil. Mas foi aconselhado pela equipe médica a não frequentar o Hospital, para não colocar a mãe em risco de contrair, também, a infecção, já que moramos juntos e eu estou na casa dos 70. Antes, a Covid-19 já atacara Carol, Juliana e Júlia, felizmente sem tanta gravidade.  Na última segunda-feira, tanto entre os médicos quanto na família, o clima era de animação. Tarcísio teria alta na terça-feira, 26. Ia se recuperar em casa. E o ambiente para recebê-lo já estava preparado.

Mas todos os cuidados e preparativos foram em vão. As sequelas deixadas pela Covid-19 o impediram de seguir a vida, de ficar junto da família, de curtir os livros que tanto gostava, de preparar para 2022, o desfile da Troça Carnavalesca Nóis Sofre Mais Nóis Goza, que ele amava e da qual fui, por décadas, porta-estandarte. Na segunda-feira, 1 de fevereiro, às 19h30m, ocorre sua Missa de Sétimo Dia, no Santuário de Nossa Senhora de Fátima (Avenida Oliveira Lima, 969, Boa Vista). A missa será presencial. Por conta da pandemia, também será transmitida ao vivo, para que todos os amigos e parentes que se sintam em risco, possam acompanhar a liturgia em seu isolamento social. O link é  https://youtu.be/GqA6C18b2Nc . “Vai Tarcísio, que não eras deste mundo. Eras um anjo que vestia azul para esconder as asas e que usava a boina para esconder  auréola”.

A família  aproveita a oportunidade para agradecer a todos os profissionais que atenderam ao paciente, de forma tão dedicada, enquanto Tarcísio esteve internado, lutando contra o atroz  vilão da pandemia. Entre eles, os médicos Tiago Ferraz, Sérgio Murilo, Isaac Secundo, Igor Chateaubriand, Emmanuel, Feliciana,, Gildo, Artur. Agradecimentos, também, aos fisioterapeutas (Leandro, Luciana, Vital, Aluísio, Fernando, Grazyela, Pedro, Nayla, Vanessa, Breno); à fonoaudióloga (Janaína);  às enfermeiros (Renata, Marcela, Késia, Rúbia, Elizângela); e ainda, os técnicos (Alex, Henrique, Jonatas, Emerson, Lu, Viviane). Assim como a toda dedicada e incansável equipe do Hospital Português.  Depois, postarei aqui alguns dos  comoventes depoimentos que chegaram à família pelas redes sociais. E peço licença ao autor da arte acima, que me chegou pelo WhatsApp para usá-la, por ser tão adequado nas lembranças do “anjo dos livros” que se vestia de azul.

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Nóis Sofre Mais Nóis Goza
Azul e rosa na folia dos laranjais
Menino veste azul e menina veste rosa?
Nóis sofre ironiza a ratoeira 
Frevo com Beethoven no Nóis Sofre 
Violino no Nóis Sofre Mais Nóis Goza

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Arte que circulou nas redes sociais no dia do encantamento

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6 comments

  1. Que emocionante depoimento Letícia!!
    Você passou momentos difíceis amiga e
    Sequer pode chegar perto de Tarcísio para dar um alento.
    Admirável o seu ato de agradecimento a todos os que cuidaram de Tarcísio, desde os médicos até os auxiliares. Meus profundos sentimentos!
    Tarcísio virou Anjo! Virou Luz!!

    1. Ainda estou consternada… repito aqui o que escrevi em meu perfil no Facebook quando tive a notícia:

      Esse ano foi punk… (sim… 2020 ainda não acabou) cada notícia, um baque. Hoje tava me lembrando de quando eu chegava na Livro 7 gritando “criatuuuuura!” pra tia Suely e tio Tarcísio (eu achava ele a cara do Raul Seixas), atrás de mais um livro na linha “Dogma e ritual da Alta Magia” pra devorar e aumentar minha biblioteca particular (que já tá enorme num grau…). E ele sempre conseguia todo e qualquer livro, por mais que parecesse impossível. Mágico!
      Não sei exatamente a idade que eu tinha, mas foi bem pelo começo e meio da adolescência… aquela livraria foi muito parte da minha vida e minha construção como pessoa. Ainda consigo lembrar do cheiro e da energia do ambiente, dos eventos, do clima… Se eternizou na minha memória. Acho que é isso que é a eternidade e o que se diz sobre vida eterna. Ninguém morre de verdade. A lembrança, as memórias a essência e a energia são pra sempre.

      (A foto peguei do angustiacriadora.com no texto de Ney Anderson que vale a pena ler pra conhecer a história da maior livraria do Brasil que entrou até pro Guinness!: https://www.angustiacriadora.com/uma-livraria-que-entrou-para-a-historia/)

  2. Eu hoje sou professora na ufpb mas minha maior lembrança da infância era ir com minha mãe, uma professora do Estado, receber salário no Bandepão depois comer uma fatia de pizza na padaria Imperatriz e depois que acho.pamhava ela fazer pagamentos etc a gente ia para livro 7 e gastava o resto das horas. Eu achei que ganhava um livro todo mês mas me apercebi há pouco tempo que se todo mês ela comprasse um livro eu teria uma biblioteca enorme e não tinha, eram poucos mas como tesouros que guardei até adulta. Então lá eu lia e ela me incentivava porque também lia e gostava daquele ambiente de cultura. E lembro muito do Tarcísio conversando com as pessoas, orientando alguma leitura, acho que a mim ele também indicava qualquer novidade infantil. É uma memória tão boa que sinto como uma pessoa da família que perdi para o covid.

  3. Eu hoje sou professora na ufpb mas minha maior lembrança da infância era ir com minha mãe, uma professora do Estado, receber salário no Bandepão depois comer uma fatia de pizza na padaria Imperatriz e depois que a acompanhava nos pagamentos etc a gente ia para Livro 7 e gastava o resto das horas. Eu achei que ganhava um livro todo mês mas me apercebi há pouco tempo que se todo mês ela comprasse um livro eu teria uma biblioteca enorme e não tinha, eram poucos mas como tesouros que guardei até adulta. Então lá eu lia e ela me incentivava porque também lia e gostava daquele ambiente de cultura. E lembro muito do Tarcísio conversando com as pessoas, orientando alguma leitura, acho que a mim ele também indicava qualquer novidade infantil. Ele não achava ruim a passo a ficar horas ali, pelo contrário, foi um ministro do cultivo da leitura em Recife. E sua imagem de boina, barba grisalha, jeans e blusa azul de botão e mangas é uma linda marca estética que povoa nosso imaginário de livreiro. É uma memória tão boa que sinto como uma pessoa da família que perdi para o covid.

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