Pesquisa realizada em Pernambuco mostrou um resultado alarmante: cem por cento dos tubarões da espécie cação-figuinho que foram examinados no estudo estavam contaminados com microplásticos, o que representa uma ameaça não só para a fauna marinha mas também para a saúde humana. O cação-figuinho é muito frequente no Brasil e é um dos tubarões mais consumidos no Nordeste.
“A teia alimentar estuarino-costeira encontra-se totalmente contaminada por microplástico em Pernambuco. Essa contaminação mostra-se cíclica no ambiente, não havendo mais como retirar o poluente dela. Isso é um fato que mostra como a atividade humana tem inserido o microplástico no ambiente marinho”. O alerta é do autor do estudo, o pesquisador Roger Rafael Cavalcanti Bandeira de Melo. Ele mostrou essa realidade na dissertação “Ecologia Alimentar e da Contaminação por Microplásticos em “Rhizoprionodon porosus” (cação-figuinho) na Costa do Estado de Pernambuco”.
Inédito, o trabalho, foi defendido no Programa de Pós-Graduação em Oceanografia (PPGO) da Universidade Federal de Pernambuco, para a obtenção do título de mestre em oceanografia. O foco da pesquisa era mostrar como a atividade humana vem contribuindo para contaminação por microplástico do cação-figuinho, espécie de tubarão inofensiva, comum na costa brasileira e também muito consumido na região Nordeste. De acordo com a pesquisa, a contaminação do tubarão por microplástico está fortemente ligada à alimentação do mesmo e o consumo do peixe nessas condições pode trazer danos à saúde humana.
“A maioria das espécies estuarinas demonstrou contaminação por microplásticos. Dessa forma, quando elas ficam disponíveis na região costeira para serem predadas pelo “Rhizoprionodon porosus”, ele acaba se contaminando pelo microplástico que estava na presa”, diz ele. Os achados acendem o sinal de alerta para o uso desse predador na alimentação humana, em especial, pelas comunidades ribeirinhas e de pescadores, pois o microplástico pode estar associado a substâncias nocivas. “Em nossa convivência com a equipe de pescadores, observamos que essa população ribeirinha ingere muito o “Rhizoprionodon porosus”, por ser um dos tubarões que são mais facilmente capturados. E pode ser que essa carne esteja contaminada ou não seja tão própria para consumo”, adverte o pesquisador.
E explica: “Uma vez que esse microplástico fica aderido ao corpo, ele vai causar um processo inflamatório naquela região, além de carregar substâncias extremamente nocivas para o organismo, como o mercúrio”. Ele ressalta a importância de se estudar o impacto dessa ingestão do microplástico presente no “Rhizoprionodon porosus.” De acordo com o pesquisador, a contaminação foi maior durante o período chuvoso – com exceção para os tubarões adultos, que tiveram pico de contaminação no período seco. Além disso, quanto menor a distância para a região costeira, maior a contaminação.
Roger explica que o cação-figuinho foi escolhido para o estudo por ser uma espécie abundante no litoral pernambucano. Foi analisado um total de 135 exemplares do tubarão, capturados de forma acessória ou involuntária por uma embarcação da colônia de pescadores de Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. As coletas ocorreram na plataforma continental pernambucana, entre as divisas da Paraíba e de Alagoas, em um período de 13 meses, abrangendo os intervalos de início e de fim das estações de chuva e de seca. TODOS OS ESPÉCIMES ESTAVAM CONTAMINADOS COM MICROPLÁSTICOS. Em especial, por fibras azuis e filmes pretos, originados principalmente da atividade pesqueira e industrial desenvolvida nas áreas costeiras e de estuário. Triste, não é?….
“Dentro do período de amostragem, nós fizemos várias fotos dentro da embarcação do plástico coletado. Independente de estar nos peixes ou não, tinha muito plástico no ambiente”, conta o pesquisador. Na sua avaliação, os resultados encontrados pelo estudo podem ser utilizados em ações que visem preservar o cação-figuinho, espécie mais afetada pela ingestão de microplástico quando comparada a peixes de níveis alimentares inferiores. Os dados indicam ainda a necessidade de apoio e novos estudos envolvendo a zona costeira pernambucana.
Lembrem-se: projeções feitas por ambientalistas indicam que, se nada for feito e o mundo continuar jogando plástico onde não deve, em 2050 os oceanos terão menos peixes do que esse material famigerado. E aí, vai sobrar o quê?
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Lobo do mar
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: UFPE e National Geographic (Acervo #OxeRecife)
Triste realidade Letícia. A raça humana está num processo acelerado de autodestruição.
Triste saber que resíduos de plásticos são encontrados dentro dos animais marinhos. O tema é recorrente, infelizmente não vemos nenhuma medida, quero dizer, política pública eficiente para conscientizar a população sobre a gravidade de se atirar plástico e outros materiais nos mares e rios. Além de política pública de conscientização, deveria haver também fiscalização e multa para punir os infratores.