O Dia Mundial do Meio Ambiente foi segunda-feira. Mas aqui no #OxeRecife ele dura a semana inteira. Aliás, o tempo todo. Porque temos a obrigação de preservar a natureza diariamente. Como disse aqui, o #OxeRecife foi solicitado por moradores de Paulista, para ver a devastação de vegetação nativa, integrada por resquícios de Mata Atlântica. Pois hoje tem duas notícias: uma ruim e outra boa. A ruim é que estive na Mata do Janga, naquele município, e fiquei triste demais com o que vi. O que era antes uma área totalmente verde virou um areal da cor do barro. E o mais grave: a mata devastada tinha muitos pés de pau-de-jangada, uma árvore ameaçada de extinção.
Tanto que as jangadas, muitas delas, hoje são feitas com canos de PVC. Agora a notícia boa: a Agência Estadual do Meio Ambiente (Cprh) embargou a construção do Condomínio Bosque (bosque?) do Janga, que seria implantado na Avenida João Pereira de Oliveira, popularmente conhecida na cidade como a Estrada de Mané Pá. Na área, há placas da empresa Boeckmann Comércio e Serviços Ltda, mas não há ainda nenhuma edificação, embora a mata esteja arrasada. Também consta, no local, uma placa com “autorização ambiental Número 494”, da Prefeitura de Paulista, que permite “supressão de vegetação”. A autorização foi liberada em 18 de novembro de 2016, com validade até 18 de novembro de 2017. Procurada, através da Assessoria de Imprensa, a Prefeitura de Paulista não se manifestou.
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A Cprh informou hoje que a empresa responsável pela implantação do condomínio (e também pela devastação da mata) recorreu do embargo, mas o problema ainda se encontra em análise. “Era um trecho muito preservado, um verdadeiro patrimônio verde, que está sendo destruído”, reclama o servidor público Fernando Batista. Ele é antropólogo, mas tem alma de botânico. Como é morador de Paulista há 20 anos, pedi que me acompanhasse na empreitada. “A destruição é recente”, afirma o pedreiro Diego Alves dos Santos, 26, que morava na “boca da mata” mas agora habita “junto de uma clareira”. Ele conta que a devastação ocorreu há seis meses. “A máquina trabalhava noite e dia, e quando a gente reclamava, os homens diziam que a ordem era derrubar, tirar tudo”, lamenta.
Tem mais. “Além de destruir a mata, o mangue foi aterrado, e quando chove a água entra agora na casa das pessoas”, relata o pedreiro. Ele lembra o tempo que penetrava na mata, e saía com balaios de “pitangas, cajás e mangas”, que não existem mais. “Aqui foi muito melhor como era antes”, sentencia. Ele conta, também, que a devastação da mata trouxe outro problema: a dispersão de animais. “Nas casas já apareceu guaxinim, gavião, cobra, porco da índia. Felizmente o povo pega, e joga no que sobrou de outras matas”. O #OxeRecife faz a campanha Parem de Derrubar Árvores por intermédio desse Blog e das redes sociais. Em Paulista, estivemos também na Mata do Frio.
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Letícia Lins e Fernando Batista