Estava no início da minha carreira profissional, quando fui escalada para fazer a cobertura da pesca da baleia na Paraíba, o único estado do Brasil onde ela era praticada, por uma empresa de origem japonesa. No dia em que lá estive, lembro-me de que dez baleias foram capturadas e rebocadas pelo navio pesqueiro. Chegando à indústria, os cetáceos eram retalhados em poucos minutos, em um espetáculo sanguinário que passou a ser vendido como atração turística. Havia arquibancadas para que as pessoas assistissem ao esquartejamento. Fiquei muito revoltada e escrevi uma reportagem para o Jornal do Brasil ( RJ) esculhambando a matança dos gigantes do mar. Lembro que entre as minhas publicações que mais renderam polêmica e cartas ao JB, estava justamente aquela. Outros órgãos de comunicação também fizeram o mesmo e a indústria da matança terminou sendo proibida no Brasil. Ainda bem, pois a captura acontecia justamente na época em que elas chegam aos nossos mares tropicais para reprodução. Os frutos começam a aparecer. Pois as baleias estão aparecendo aos milhares no nosso litoral e a estimativa populacional chega a 25 mil indivíduos em terras brasileiras. Um verdadeiro show da natureza.
Este ano, só no mês de junho, foram avistadas 194 baleias entre a Bahia e o Espírito Santo, na rota que passa pelo Arquipélago de Abrolhos, berço reprodutivo da espécie no Brasil. Imaginem, então, quantas estariam sendo sacrificadas hoje no nosso país, que agora pode se orgulhar de ter proibido a pesca desses animais. E o resultado é o espetáculo que se tem visto no Rio Grande do Norte, no Rio de Janeiro, na Bahia e até em Pernambuco, onde elas já apareceram no Litoral Sul e no Litoral Norte. Até mesmo na praia de Boa Viagem, segundo vídeos divulgados em redes sociais. Calcula-se que a quantidade desses animais em mares brasileiros esteja próxima da generosa população, registrada há dois séculos atrás. No mundo, só restam três países onde o mamífero ainda pode ser capturado para fins comerciais: o Japão, a Noruega e a Islândia. Esta havia decidido suspender a atividade, porém voltou atrás, e a decisão motivou uma campanha da ONG Proteção Animal pelo fim da captura. Informa a ONG que a morte do animal é lenta, o que lhe impõe um grande sofrimento.
“Como os humanos, as baleias são sencientes. Elas possuem capacidade de sentir emoções negativas e positivas, como mágoa, empatia, medo, prazer, alegria, podendo experimentar tanto a dor física quanto a psicológica”, informa a Proteção Animal. A ONG está mobilizando a população para que não seja mais permitido “o arpoamento, o massacre sangrento do século 21”. Na Bahia, biólogos do Instituto Baleia Jubarte (IBJ) utilizam barcaças da Norsul, empresa de navegação e integração logística, para fazer registros dos mamíferos marinhos no percurso da embarcação, que transporta a celulose produzida pela Veracel, indústria localizada no Sul da Bahia. Até o momento, foram realizados mais de 166 horas de esforço de observação por parte dos profissionais do IBJ na rota da embarcação. E eles constatam que a população desses gigantes do mar está crescendo. E muito!
O Instituto e as duas empresas participam do Grupo Trabalho Jubarte criado para estudar e colocar em prática medidas preventivas adicionais que diminuam o risco de choque entre embarcações e as baleias. As baleias jubarte ficam de junho a novembro no Banco dos Abrolhos, principal berçário da espécie na costa do Brasil. Neste período da chamada “temporada das Jubarte”, elas acasalam, reproduzem e amamentam seus filhotes, principalmente, nas águas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Para a temporada deste ano, o IBJ está otimista com a quantidade de animais e registros. Em 2022, através de um monitoramento aéreo feito pelo Instituto com o apoio da Veracel Celulose, em um raio de cerca de 6.200 Km, foi possível realizar a estimativa de uma população de 25 mil desses animais marinhos na temporada – um crescimento histórico que se aproxima do número de animais de 200 anos atrás, quando havia 27 mil mamíferos da espécie em águas brasileiras. “Depois de décadas de atuação na proteção das baleias, ver essa população quase totalmente recuperada dá uma sensação de dever quase cumprido. Estamos acompanhando a temporada de 2023 em toda a costa brasileira e esperamos que os resultados sejam positivos”, destaca Milton Marcondes, médico veterinário e coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Instituto Baleia Jubarte / Veracel
Notícia maravilhosa Letícia! Lembro bem da confusão que foi a proibição da pesca das baleias no Porto de Cabedelo! Se dizia que o Porto ia falir, que a cidade de Cabedelo ia virar um local fantasma e nada disso aconteceu! Mas devemos sempre ficar em alerta porque vivemos num mundo cheio de situações esdrúxulas e ainda hoje se diz em Cabedelo que os patinhas estão voltando!! Espero que nunca mais!! Parabéns pelo texto Letícia!!!
Verdade!
Japinhas