Nesta semana, me diverti assistindo o Canal Arte 1, durante exibição da série Memórias do Brasil com Maria Alcina, como entrevistada. A mulher é uma festa. Com seu vozeirão, suas roupas extravagantes, o excesso de plumas, paetês, brilhos, alegria no olhar, nos gestos, na fala. E muita irreverência, uma figura! Depois, fiquei sabendo que a artista estará mais uma vez em evidência na noite dessa segunda-feira (14/06), quando concederá uma longa entrevista no Porto de Chegada, conduzido pelo cantor e agora também apresentador Gonzaga Leal. A entrevista longa, com pelo menos 20 perguntas, será transmitida pelo Instagram dos dois artistas, a partir das 19h.
Gonzaga Leal é fã de carteirinha de Maria Alcina há muito tempo. “Alcina é pura vanguarda”, diz. “Se antecipou a tantos e tantas. Trouxe uma nova noção de espaço, luminosidades, encantamentos e mistério à música brasileira”, acrescenta. “Ela deu e continua dando um salto imaginativo para uma nova paisagem sonora e totalmente imprevista com uma categoria distinta”. Para Gonzaga Leal, com sua arte, Maria Alcina “conseguiu criar e sustentar um ambiente e uma presença poderosamente específicos para cada uma de suas joias, de brilho imenso e revolucionários que celebram os ritmos da vida”. “Penso que ela está sempre a nos advertir: Não me diga o que devo fazer. Eu quero mesmo divertir a todos e a mim mesma”, lembra ele. E acrescenta: Viva, Vida, Vida, vem aqui vida”, chama Maria Alcina. E a vida pula em seu colo”.
Pois hoje o que se espera é um programa com humor, irreverência, vida, memória. Porque, como já disse antes, Maria Alcina é festa, é alegria, é magia. E Gonzaga Leal vai passar em revista vida e obra da artista. Desde seu flerte com a música pernambucana, os desafios da carreira (como a parceria com o grupo paulista de música eletrônica Bojo), a desenvoltura com que passeia por ritmos tão diversos, “revelando o Brasil sonoro e encantador”, nas palavras do entrevistador. Também será questionada sobre “a voz andrógina e exótica”, a influência de Carmem Miranda (1909-1955), os figurinos, a estética construída pela artista, as plumas, os brilhos.
Terapeuta durante longos anos – até trocar o consultório pelos palcos – Gonzaga Leal também preparou umas perguntas não só sobre a artista, mas sobre a pessoa, sua alma, seus medos, as alegrias tristezas, as paixões, os sonhos, a liberdade. Enfim, a vida. ” Percebo que você faz do seu sentimento a sua vaidade. Qual são os dogmas, escudos, guaritas que fazem com que você se sinta protegida?”, indaga ele. Ou “Para quem você escreveria uma carta, hoje, falando da vida?” Também: “O que mais a faz rir ou se entristecer na vida?” E, claro, a pergunta que não quer calar: “Como artista, qual é a função que acha que cumpre”?
Maria Alcina nasceu em 1949, na cidade de Cataguases (MG). Antes de virar cantora, trabalhou por seis anos em um circo, de onde talvez tenha vindo seu estilo performático. Dona de voz grave e de presença contagiante, ela acumulou uma série de sucessos a partir dos anos 1970, quando ganhou o Festival Internacional da Canção, interpretando Fio Maravilha (de Jorge Ben). A fama explodiria ao ser aclamada no Maracanã, cantando este que é um dos seus mais lembrados sucessos. Ela sempre adotou visual extravagante e há quem diga que a artista se inspira em outra artista, Carmem Miranda, a primeira cantora popular brasileira a conquistar Hollywood. Terapeuta e cantor, Gonzaga Leal optou pelos palcos e tem vários CDs gravados. Sem as apresentações – suspensas, devido à pandemia – ele passou a usar as redes sociais para entrevistas, no Baião de Dois, tendo quase sempre músicos como convidados. Depois, resolveu ampliar o foco, substituindo o Baião de Dois por Porto de Chegada. E aumentou o leque de entrevistados. Agora, ganham espaço, também, “jornalistas, escritores, bailarinos, atores, psicanalistas, artistas plásticos”, diz.
Veja, no vídeo do Youtube, Maria Alcina cantando um dos seus maiores sucessos, Fio Maravilha
Leia também
Ciro Barcelos: Do Dzi Croquetes ao Moulin Rouge
Os inuméraveis estados do ser com Gonzaga Leal
Diva Menner no Baião de Dois
Frevo de Spok no Baião de Dois
Gonzaga Leal no #ZiriguidumEmCasa
Gonzaga Leal e Isadora Melo: Insones Intempestivos
Gonzaga Leal no #ZiriguidumEmCasa
Gonzaga Leal e Isadora Melo: Insones Intempestivos
Saudosismo de musicais lota Palácio
Cesta de Música: MPB,black e LGBTQI
Saudosismo de musicais lota Palácio
Livro retrata a ousadia do Vivencial
Música no Palácio tem tributo a Nat King Cole: “Unforgattable” e “Nature Boy”
Música no Palácio: do chorinho ao frevo
Música no Palácio bombou hoje
Um domingo de música no Palácio
A “onça” da Bossa Nova e o acordeão da força e da esperança
Carlos Alberto Asfora: entre a diplomacia, o canto e o violão
Dupla divina: Marisa Monte e Paulinho
Aglaia Costa: passeio de rabeca entre o popular e o erudito
Nando Cordel: forró e música espiritual
Imperdível: Viva Caymmi no Recife
“Frevo e forró são como feijão e arroz, não vivo sem os dois”
Duelo de rabecas no arraial
A epifania dos pífanos
Arthur Philipe trocou a carreira camerística pela música popular
Música portuguesa com certeza
Piano, treminhão e Beto Ortiz
Repertório Junino no Música no Palácio
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Acervo pessoal / Maria Alcina