Está muito triste a situação social no Recife. Por onde se anda, principalmente no Centro, chega a impressionar o número de pessoas sem teto, vivendo ao relento, em praças, calçadas, dormindo sob marquises. No último domingo, havia até uma rede estendida naquilo que foi um coreto, na Praça Osvaldo Cruz, na Boa Vista. Na Maciel Pinheiro, no mesmo bairro, as grades do gramado são usadas para estender a roupa lavada por mendigos na fonte. E o que dizer das calçadas da Rua do Imperador? É claro que quem não tem teto não tem também comida. Para contribuir com a segurança alimentar da população mais vulnerável, o Programa Chegando Junto acaba de entregar o segundo restaurante popular: o Josué de Castro, que fica na Rua do Peixoto, 440, no Bairro de São José.
Josué de Castro (1908-1973), autor do livro Geografia da Fome, denunciou miséria e a desnutrição nas populações do Nordeste e do Brasil. Era geógrafo,médico, nutrólogo, cientista social e político. Sua denúncia, no entanto, custou-lhe o exílio durante a ditadura, tendo morrido em Paris, durante os tempos de perseguição política. O novo espaço tem capacidade para ofertar 850 refeições diárias às pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza. Somando-se ao Naíde Teodósio, também recém inaugurado, o Recife passa a ofertar 1,6 mil refeições gratuitas por dia para a população de rua. O equipamento funcionará diariamente das 11h às 14h e das 17h às 20h. Serão ofertados 750 almoços e 100 jantares gratuitos para pessoas cadastradas e acompanhadas pelos serviços de assistência social oferecidos pelo município, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Política sobre Drogas e Direitos Humanos do Recife.
Mas a população em geral pode usufruir do restaurante mediante pagamento de R$ 6,71. Na sexta-feira (27), logo após a inauguração, um dos primeiros a chegar foi Gilberto, de 65 (na foto, de boné e na mesa). Ele é morador de rua há 18 anos, e não lembrar o dia em que teve uma refeição digna deste nome. Cata restos de comida onde acha e sobrevive do que lhe dão, inclusive os sopões distribuídos por grupos filantrópicos. “Almocei no restaurante popular de Santo Amaro e agora estou jantando no do bairro de São José. E quando terminar aqui, vou para o abrigo noturno”, comemora.
Gilberto referia-se ao Abrigo Noturno Irmã Dulce, também recém inaugurado. “Vou comer uma comida quentinha, que foi feita pra mim e não foi resto de ninguém. E depois vou dormir em uma cama. É muita gratidão”, afirma. No Recife, cerca de 1,6 mil pessoas vivem em situação de rua, de acordo com levantamento da Prefeitura. O #OxeRecife aplaude iniciativas para fortalecer a rede de proteção social, como restaurantes populares, abrigos noturnos para pessoas sem teto, a revitalização dos morros, programas para geração de renda. Mas é preciso, também, que a Prefeitura cuide melhor da cidade: praças, parques, avenidas, do lixo, da orla do Pina e Boa Viagem. E da iluminação da iluminação pública, que privilegie pedestres. Pois as implantadas em avenidas como a Recife e Norte, no meio da pista, deixa as calçadas às escuras, o que contribui para a sensação de insegurança.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Divulgação / PCR