Fundado em 1827 por decreto imperial, o curso de Direito só permitiria o acesso de mulheres mais de meio século depois, em 1879. E em 1888, surgiam as três primeiras bacharelandas, porém não lhes foi permitido exercer a profissão. Por muito tempo, ainda, o corpo de docentes era formado apenas por homens. Só em 1965, surge a primeira professora, Maria Bernadete Pedrosa. A segunda seria Margarida Cantarelli, atual Presidente da Academia Pernambucana de Letras. Durante todo esse período, a Faculdade de Direito do Recife só teve uma diretora: Luciana Grassano de Gouvêa Mélo. Ela está entre as 14 pessoas homenageadas durante as comemorações dos 190 anos da criação dos Cursos Jurídicos e Sociais em Pernambuco, que transcorrem nesta semana.
Para as pessoas que atuam na área, Luciana dispensa apresentação. E grande parte da população tem conhecimento de suas ideias sempre brilhantes, em crônicas semanais, no Diário de Pernambuco, o mais antigo em circulação na América Latina. Ela fez mestrado e doutorado na Universidade Federal de Pernambuco e pós doutorado na Universidade de Bolonha, na Itália. É líder do grupo de pesquisa Cnpq Direito e Política: Estudos sobre Democracia, Federalismo, Despesa Pública e Justiça Fiscal. É professora de graduação, mestrado e doutorado em Direito, da Ufpe. Luciana foi a primeira e única diretora mulher da Faculdade de Direito do Recife. E atuou por dois mandatos, de 2007 a 2014.
Sua passagem deixou marcas. “Como comecei a trabalhar na FDR, em 2007, justamente no primeiro ano da gestão Grassano, costumo dizer que a professora Luciana trouxe luz às sombras”, afirma o antropólogo Fernando Batista, que tem uma dissertação de mestrado que enfoca o resgate histórico e arquitetônico da FDR. Ele conta que em homenagem às 18 décadas do curso, ela instituiu em 2007 a campanha 180 anos da Faculdade de Direito do Recife – o Direito passa por aqui. “Nem aula tínhamos mais naquele prédio histórico”, lembra.
“Muitos espaços que hoje contemplamos na FDR, renasceram a partir da gestão de Luciana”, diz. “A FDR precisa recuperar muitos espaços ainda, mas muito já foi feito”. Ela também providenciou equipamentos que permitem acessibilidade a pessoas com deficiências. Luciana teve como vice uma mulher também, Fabíola Lôbo. Quem lê os artigos de Luciana no DP, percebe a sua extrema sensibilidade e o seu profundo humanismo, não só como fiscal da lei, mas também como pessoa, humana que é. Luciana é quem, é gente.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Foto: Fernando Batista / Cortesia