Não é porque estamos em pandemia e em tempo de isolamento social que a cultura vai parar. Nessa quinta-feira (14/5) será lançado o livro Lia de Itamaracá: nas rodas da cultura popular, escrito pela jornalista Michelle de Assumpção. É o quarto título da Coleção Biografias, da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Para assinalara publicação, a autora participará de uma live às 17h30 de hoje, juntamente com o editor Diogo Guedes. A conversa será transmitida pelo canal do Instagram da editoria (@cepeeditora).
Segundo a Cepe, o livro revela a história de uma menina, negra e pobre, que aos 12 anos, entre o exaustivo trabalho doméstico e as brincadeiras no manguezal, sonhava um dia ser artista e cantar para multidões. Convidada pela Cepe, Michelle Assumpção (foto ao lado) começou sua pesquisa para no ano passado e já de início se viu diante de uma triste constatação: a escassez de títulos que se propõem contar as histórias dos celebrados mestres e bens culturais.
“Escrevemos muito pouco sobre nossa cultura popular e seus mestres e mestras”, diz.Em 216 páginas, o livro mostra que a históriade Lia de Itamaracá se confunde com história da ciranda em Pernambuco, uma expressão popular com bases fincadas na Zona da Mata e essencialmente masculina em sua origem. Contextualiza e destaca ainda a presença de outros grandes nomes do universo cirandeiro, como Dona Duda, mestre Antônio Baracho, Santino Cirandeiro e João Limoeiro. “O tempo todo estive ciente de que estava escrevendo uma história sobre uma das artistas populares mais importantes de nossa geração, e sentia o peso dessa responsabilidade”, diz ela. Uma simples busca na internet pelo seu nome revela em torno de 134 mil citações. segundo lembra a jornalista, o que a levou a fazer uma pergunta a si mesma.
“Que contribuição maior eu poderia dar, além de apenas reunir os principais fatos, discos, projetos, dificuldades (muitas) e conquistas (outras tantas) de Lia? “, questiona Michelle. A pesquisa teve como fontes a própria bagagem da autora enquanto jornalista especializada, o acervo pessoal da cantora, jornais do século passado, além de consultas a estudos referenciais sobre a ciranda. O trabalho permitiu correções importantes, como, por exemplo o encontro de Lia com a ciranda. Ao contrário do já muito divulgado, Lia, que adorava cantar quando menina, não cresceu ouvindo ciranda. A ciranda, por sinal, uma inegável marca da ilha, só chegou à Itamaracá pela voz e mãos da própria Lia, no final da década de 1970.
O livro revela ainda a inusitada história de como Lia se tornou nacionalmente conhecida como cirandeira antes mesmo de virar cantora graças à música Quem me deu foi Lia, de Antônio Baracho, gravada por Teca Calazans em 1967. Lia é Patrimônio Vivo da cultura pernambucana, Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco, e gosta de usar a palavra resistência para definir sua trajetória de vida e de arte. Desde que subiu ao palco e cantou pela primeira vez em junho de 1974, no Pátio de São Pedro, tornando-se a grande vencedora do 5º Festival da Ciranda de Pernambuco, ela encara com altivez os desafios impostos. Viveu os anos dourados da ciranda na década de 1970, enfrentou a estagnação e a penúria dos anos 1980 e a partir de 1997, quando sua vida cruzou a do produtor Beto Hess, consolida seu lugar na cena cultural brasileira. Já foi chamada de “diva da música negra” pelo jornal The New York Times. Ao mesmo tempo, nunca abandonou a função de merendeira na Escola Estadual de Jaguaribe (de onde saiu em 2010 para se aposentar), emprego que lhe garantiu a sobrevivência nos tempos de penúria.
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Serviço:
Live de lançamento do livro Lia de Itamaracá: nas rodas da cultura popular
Quando: 14.05.2020, quinta-feira
Horário: 17h30
Onde: Canal da Cepe Editora no Instagram (@cepeeditora
Preço do livro: R$ 40,00 (impresso) e R$ 12,00 (e-book)
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: André Zahaar e Alceu Tavares / Divulgação / Cepe