Livro sobre Clarice será lançado à tarde: “O que escrevo continua”

Com previsão de publicar mais de 50 novos títulos em 2021, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), faz  nessa quinta-feira  (14/01) o primeiro lançamento presencial desde o início da pandemia:  O que escrevo continua – Dez ensaios no centenário de Clarice Lispector. O livro foi organizado pelo poeta, cronista e jornalista José Mário Rodrigues. O encontro ocorrerá partir das 16h, no auditório do Centro Cultural Cais do Sertão, no bairro do Recife. Na ocasião, será exibido um vídeo de Nadia Battella Gotlib, autora da fotobiografia da escritora, falando sobre a vida e obra de Clarice.

José Mário reuniu ensaios dos seguintes autores: Raimundo Carrero, Lourival Holanda, Cícero Belmar, Mario Helio, Luzilá Gonçalves Ferreira, Ângelo Monteiro, Fátima Quintas, Fernando de Mendonça, Marilene Felinto e texto do próprio organizador. O prefácio tem a assinatura da jornalista Leda Rivas. Em 1976, em sua última visita ao Recife – cidade onde passou parte de sua infância – Clarice Lispector teve José Mário como cicerone. Clarice nasceu em 1920 e morreu em 1977.

Em seu ensaio, José Mário relata a experiência de ciceronear Clarice no Recife. Ele relata inclusive como a salvou de uma crise de pânico e como a escritora chegou a fazer previsões sobre sua vida, tão mística que era, ao ponto de ser chamada de bruxa.  “Clarice possuía uma ‘compulsiva intuição’, como afirmou Otto Lara Resende (jornalista e escritor mineiro)”, conta poeta, autor de O voo da eterna brevidade, também publicado pela Cepe. Sobre a “crise de pânico”, ele lembra:

“Clarice tomava muitos remédios. Era natural que, diante de uma grande plateia, acontecesse uma crise de pânico. E foi o que ocorreu na entrada do auditório do Bandepe (Banco do Estado de Pernambuco, privatizado em 1998), no Recife Antigo, onde ela fez uma palestra ou melhor, leu o texto que havia preparado. O auditório estava lotado. Na época em que ela esteve aqui, 1976, não era um nome tão popular, como ficou depois de sua morte, em 1977. Era conhecida nos meios intelectuais”.

Sempre aos domingos, à tardinha, ela ia ao Largo Boticário, no Rio de Janeiro, para uma visita ao pintor e poeta Augusto Rodrigues (1913 -1933), o criador das Escolinhas de Arte no Brasil. José Mário conta que ainda não conhecia pessoalmente a autora de Água Viva. Então indagou ao artista pernambucano, que morava naquela cidade.  E ele respondeu: “Bonita, sedutoramente atraente, às vezes esquisita, misteriosa, muito inteligente e tem algo de bruxa”. O título do livro sobre a artista foi retirado de uma frase do livro Água Viva: “Tudo acaba, mas o que escrevo continua. O melhor ainda não está escrito. O melhor está nas entrelinhas”. Lembra que toda obra da autora de Laços de família está alicerçada no mistério, na inquietação, no desconhecido, que terminaram por motivar uma legião de admiradores e  uma montanha de estudos acadêmicos sobre a obra.

José Mário lembra o que ela  mesma disse em entrevistas: “Escrever é procurar entender, é reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador”.  Clarice mergulha tão fundo na própria alma e de seus personagens, que sua literatura já motivou até a criação de um bloco de carnaval, o Cansei de ser profunda, que por alguns anos movimentava o carnaval no Bairro do Recife.  Entre outros livros, Clarice é autora de Água Viva,  A Maçã no Escuro, A Paixão Segundo GHLaços de FamíliaHora da Estrela e Felicidade Clandestina. Durante alguns anos, escreveu crônicas no Jornal do Brasil. Essas crônicas foram reunidas no livro A Descoberta no Mundo. Uma boa opção para quem quer conhecer melhor a escritora e seus mistérios é recorrer à leitura de Clarice, biografia  muito completa, de mais de 600 páginas, escrita por Benjamin Moser. O escritor, aliás,  ganhou em 2020 o Prêmio Pulitzer  com outra biografia, dessa vez sobre a controvertida escritora e ensaísta americana Suzan Sontag (1933-2004).

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SERVIÇO
O quê: Lançamento: O que eu escrevo continua – Dez ensaios no centenário de Clarice Lispector
Organizador: José Mário Rodrigues
Data: 14 de janeiro
Horário: 16h
Local: Auditório do Centro Cultural Cais do Sertão (Armazém 10, Av. Alfredo Lisboa, s/n)Preço: livro impresso R$ 30,00, e-book R$ 12,00

Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Cepe / Divulgação

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