A primeira vez que ouvi falar de Martha de Hollanda (1903-1950), foi há muito tempo, quando entrevistava o poeta Mauro Mota (1911-1984), para escrever uma reportagem sobre caju, tão consumido e apreciado no Nordeste, seja in natura, na batida de cachaça, no suco, nas compotas ou mesmo como passa. Também há quem o use para moquecas vegetarianas. Isso sem falar na castanha, uma das mais deliciosas amêndoas que existem. Sim, Mauro Mota é autor de um clássico sobre o assunto, “O Cajueiro Nordestino”, árvore nativa do Brasil.
Conversa vai conversa vem e, não lembro como, surge o assunto Martha de Hollanda, segundo o poeta uma mulher muito avançada para o seu tempo. E, também, ousada até no vestir. Ele passa a me contar sua convivência social com a moça ousada e fascinante, que me deixou muito curiosa. Coincidência, poucos dias após a entrevista, ganho um livro autografado de Cristina Inojosa: “Martha de Hollanda: Feminismo e Feminilidade”, no qual ela relata a trajetória da mulher que mexeu com a sociedade pernambucana nas primeiras décadas do século passado e que até hoje é reverenciada na cidade onde nasceu, Vitória de Santo Antão, onde Martha virou uma espécie de lenda, sobre a qual contam fatos e versões. A menina que se transformara, depois, “numa mulher rebelde, personalíssima e intelectual”. Para Inojosa, Martha teve “um comportamento diferenciado no sentido de procurar vencer barreiras sociais, contrariando uma família tradicionalista e uma sociedade hermética”.
Mas não é só isso. Martha de Hollanda foi articulista política, escritora, feminista, agitadora cultural, segundo mostra Cristina Inojosa no livro agora reeditado e que terá festas de lançamentos em dois dias seguidos, em São Paulo, na quinta e na sexta-feira desta semana.
Martha foi para o Recife para fundar o movimento Cruzada Feminista Brasileira, no intuito de ajudar outras mulheres a lutarem por seus direitos. Foi primeira mulher a votar em Pernambuco, além de ser poeta e gostar de agitar a vida cultural, promovendo saraus. Cristina Inojosa (1940-2007), historiadora, publicou, em 1984, o livro “Martha de Hollanda: feminismo e feminilidade”, um ensaio a respeito da feminista. O relançamento, sob a edição do Selo Mirada e organização de Henrique Inojosa, está programado para acontecer em São Paulo, o que é muito bom para tornar mais conhecida essa mulher tão surpreendente, uma espécie de Pagu pernambucana. Os lançamentos ocorrem nos dias 22/11, (na Ria Livraria) e 23/11 (no Cine Café Felini) às 18 horas, dentro da programação do Circuito Literário Artístico Mirada.
Na ocasião, serão lançados também, livros de escritores e escritoras como Iaranda Barbosa, Ana Karla Farias, Plínio Delphino, Taciana Oliveira. Mas para nós, pernambucanos, é Martha que interessa. A Ria Livraria fica na Rua Marinho Falcão, nº 58, Sumarezinho, São Paulo. O Cine Café Felini é na Rua Augusta, nº 1475, Cerqueira Cézar, São Paulo. Sinceramente, é muito interessante a publicação de livro sobre Martha, uma das figuras femininas mais interessantes do século passado em Pernambuco e que não pode ser vítima de apagamento, quanto tantas outras personagens interessantes, também mulheres que – mesmo como protagonistas – foram esquecidas pela história, geralmente escrita por homens. Martha, aliás, está ganhando espaço na antiga cadeia de Vitória de Santo Antão, que virou museu e centro cultural. Vitória fica a 50 quilômetros do Recife.
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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação
Excelente notícia o relançamento deste livro , ele nos dá mais um exemplo de como nosso estado sempre foi um celeiro de grandes mentes !
Não conhecia a história de Martha de Hollanda ,mas a notícia do relançamento do livro é um exemplo da importância de preservar a memória de quem contribuiu para para mudanças sociais importantes,se impondo como intelectual, escritora,feminista e ativista cultural.Orgulho para todos nós!
Confesso que nunca antes ouvi falar em Martha de Hollanda, até lhe agradeço pela matéria, Letícia. Pelo papel de destaque que ela teve na época, o relançamento do livro sobre a sua atuação é mais do que merecido. Uma oportunidade para que muitos possam tomar conhecimento dos seus feitos. Pena que viveu tão pouco, poderia ter deixado um legado maior.