Professor titular de Antropologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco, com vários livros publicados – inclusive o ensaio Nordeste Semita – Caesar Sobreira estará às 19h dessa sexta-feira (31/1), na Academia Pernambucana de Letras, para lançamento, bate-papo e noite de autógrafos de sua obra mais recente: “Gilberto e o judaísmo: consonâncias e dissonâncias no judeu de Apipucos”. Ou seja, um tema no mínimo curioso. Tem mais, é o primeiro livro publicado no Brasil e também no exterior, exclusivamente dedicado à análise do que Gilberto Freyre escreveu sobre os judeus e o judaísmo.
Antes da sessão de autógrafos, haverá uma discussão sobre o livro, com participação do autor, do escritor Jacques Ribemboim e Gilberto Freyre Neto, Coordenador Geral de Projetos da Fundação Gilberto Freyre, que funciona no casarão secular onde o sociólogo residiu. O tópico está entre os pontos mais delicados e polêmicas da obra do sociólogo, que chegou até a sofrer acusação de antissemitismo. As controvérsias poderiam ser ainda maiores, se os estudos a respeito do assunto fossem mais intensos. “Havia uma escassez, para não dizer raridade, dos estudos que se debruçam sobre o tema”, afirma Caesar, que dividiu o seu ensaio em duas partes, oito capítulos e 392 páginas. Para escrever a obra – editada pela Cepe (Companhia Editora de Pernambuco) – Caesar mergulhou em uma releitura de 27 livros de Freyre, incluindo a sua clássica trilogia. formada por Casa Grande e Senzala (1933), Sobrados e Mocambos (1936) e Ordem e Progresso (1959).
Nos três livros, Freyre aborda a questão dos judeus. Caesar investigou meia centena de títulos, entre biografias, artigos, trabalhos acadêmicos sobre a presença de judeus na obra de Gilberto Freyre. No primeiro e mais famoso livro, o sociólogo exalta por exemplo, virtudes dos judeus (intelectuais e científicas), mas reprova atividades econômicas abusivas. Por conta de algumas colocações sobre o judaísmo em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freyre foi acusado em 1947 de antissemitismo pelo antropólogo norte americano Jules Henry (1904-1969), embora o estrangeiro não tenha chegado a usar a expressão antissemita para classificar o pernambucano.
Jules Henry disse ser “lamentável que um trabalho dessa natureza seja solto em cima de um mundo já fervendo de ódio racial”. Na sexta edição de Casa Grande e Senzala, em 1950, Gilberto Freyre refutou: “O fato é, claro, que nunca tive intenção de ser antijesuíta ou antissemita”.
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Serviço
Lançamento do livro “Gilberto Freyre e o judaísmo: consonâncias e dissonâncias hebraicas no judeu de Apipucos”, de Caesar Sobreira
Quando: Sexta-feira, 31/01/2025
Horário: 19h
Onde: Academia Pernambucana de Letras
Endereço: Avenida Rui Barbosa, 1596, Graças
Preço: R$ 80 (impresso)
Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Leopoldo Conrado/ Cepe / Divulgação
Imperdível. Uma abordagem rara na obra de Gilberto Freyre
Esse livro chega num momento oportuno. Estava na hora de alguém esmiuçar a obra de Fryre e levantar espectos que foram deturpados, e este sobre os judeus é um. Tem outro que precisa ser revisto. Espero que alguém se proponha a fazê-lo. A obra de Gilberto Freyre, em particular Casa Grande&Senzala, não pode ser colocada em segundo plano como alguns há algum tempo, com propósito de notoriedade, vêm fazendo.