Leia de graça “A emparedada da Rua Nova” e outros nove livros da Cepe

Nesses tempos de pandemia, nada como os livros para justificar o forçado hábito de ficar em casa o tempo todo.  No Mês do Livro, a Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) oferece o download gratuito de dez e-books, repetindo iniciativa de  2020, que fez sucesso entre os amantes da leitura. Esta é a terceira ação da empresa, desde o início da disseminação da Covid-19, no sentido de democratizar o acesso aos livros. Isso para incentivar as pessoas a ficarem em casa, promovendo a hashtag #JuntosNaLeitura. Uma boa nesse período de compulsório isolamento social.

Duas datas motivam a ação: Dia Mundial do Livro (23) e Dia Nacional do Livro Infantil (18). Para baixar os títulos basta acessar as principais plataformas digitais (Amazon, Apple, Kobo, Livraria Cultura e Google Play Books). Nesta campanha, as obras liberadas trazem diversidade de gênero, livros esgotados em sua versão impressa, muito procurados pelos leitores. E também autores consagrados como Cida Pedrosa (Prêmio Jabuti 2020) e Silviano Santiago).

Além dessa ação, em compras a partir de R$ 80,00, feitas na loja on-line, o consumidor ganhará o exemplar do título O que eu disse e o que me disseram: A improvável vida de Geraldo Freire. Em março do ano passado, a Cepe disponibilizou 14 e-books para download gratuito. Em abril de 2020, mais dez e-books foram liberados. “Com essa iniciativa, a Cepe reforça seu compromisso com a democratização do acesso ao livro. O Brasil vive hoje uma realidade cruel marcada por ataques do Governo Federal às políticas públicas de cultura, educação e fomento à leitura. É preciso que a sociedade atenda ao chamado em defesa do livro; que refute o pensamento de que livro é coisa de elite e de que pobre não lê para justificar a tributação sobre os livros”, destaca o presidente Ricardo Leitão.

Agora, confira a sinopse dos 10 e-books liberados:

Três Homens Chamados João – Uma tragédia em 1930 (2020);  Autora: Ana Maria César; 400 páginas. A obra reproduz o cenário da tragédia que se abateu sobre João Pessoa, João Dantas e João Suassuna, três políticos que morreram assassinados, vítimas de tramas políticas. O livro analisa antecedente e fatos em pesquisa histórica que esmiúça as razões de tripla tragédia.  Na verdade, uma homenagem aos joões, vértices de três triângulos, unidos e indissociáveis. E também  às vítimas inocentes que foram alcançadas pela voracidade dos acontecimentos,  como Augusto Moreira Caldas e Anayde Beiriz. A vida de Anayde, uma mulher avançada para a época, já rende até filme.

O Brasil de Gilberto Freyre: Uma introdução à leitura de sua obra (2020); Autor: Mário Helio; 244 páginas. Publicado pela primeira vez há duas décadas, o livro apresenta aos leitores, de maneira didática, os pilares mais importantes do pensamento de Gilberto Freyre, ainda hoje em constante reavaliação e releituras. Com ilustrações do artista Zé Cláudio, a obra é um convite a imergir no universo da sociologia, antropologia e historiografia freyriana.

 

A Emparedada da Rua Nova (2013); Autor: Carneiro Vilela; 518 páginas. Clássico da literatura pernambucana, o livro deve seu sucesso ao mistério que cerca sua criação. Nele, o autor retrata um crime verdadeiro que seria, em que uma jovem foi emparedada pelo próprio pai, porque estava grávida. Há quem diga, no entanto, que o autor costurou tão bem a história que ela se passou por verdadeira.  Mas  não passa de ficção. E boa fição. Tão boa que virou quase verdade. O enredo envolve o leitor em um redemoinho de emoções, paixões e loucura, cujo ápice é o assassinato de uma jovem grávida e do namorado, que era amante da mãe dela.  Imperdível. Adoro!  A trama virou série na TV Globo.

Jogo de Cena (2019); Autora: Andrea Nunes; 327 páginas. O romance policial narra a morte de um boticário francês na fictícia cidade de Mangueirinhas. desencadeia uma sucessão de outros crimes, aparentemente provocados por assombrações do folclore nordestino. Para solucioná-los, a jovem delegada da cidade conta com a ajuda do filho do seu padrasto, um historiador que renega as origens. A autora utiliza informações verídicas sobre projetos científicos para encher o livro de ação, suspense e muitas reviravoltas. Muito bom para quem gosta de suspense, emoções, reviravoltas e surpresas que marcam os livros policiais.

Gris (2018); Autora: Cida Pedrosa; 140 páginas. Vencedora do Prêmio Jabuti e Livro do Ano de 2020, com Solo para vialejo (Cepe Editora), Cida traz nesta obra uma coletânea de 50 poemas que resumem o viver na cidade. Curtos e cortantes, os poemas levam os leitores a um passeio por paisagens coloridas em contraste com o cinza dos asfaltos e edifícios, revelando pele, músculo, nervos, sangue e coração. Obra essencial de uma das mais relevantes vozes da poesia contemporânea.  A autora é sertaneja de Bodocó, feminista e elegeu-se pelo PC do B para a Câmara Municipal do Recife.  Mesmo com os compromissos políticos, não descuida do amor à Literatura, sempre postando fatos, declamações e informações literárias em suas redes sociais, principalmente no Instagram. Quem ainda não leu, precisa ler.

 

Memórias do Araguaia – Depoimentos de um ex-guerrilheiro (2018); Autor: Dagoberto Alves da Costa; 104 páginas. O psicólogo Dagoberto Alves da Costa, que vivenciou na juventude a ditadura militar brasileira, revela neste livro como os sonhos da juventude da época foram transformados em pesadelo. O ex-guerrilheiro, após um tempo silencioso, foi encorajado pela esposa, a jornalista e deputada Terezinha Nunes, a narrar experiências, detalhes e horrores que presenciou, o que faz de forma sensível e minuciosa, iluminando assim uma página escura da história do Brasil. Na verdade, uma crítica à cooptação de jovens pela esquerda armada nos tempos da ditadura.

Uma literatura nos trópicos (2019); Autor: Silviano Santiago; 369 páginas.  Com esse livo, o autor  foi o Vencedor do Prêmio Casa de Las Américas 2020 (tradução espanhola), Uma literatura nos trópicos traz textos críticos fundamentais na obra de Silviano Santiago, e inclui os cinco ensaios que foram retirados da edição original, de 1978, reafirmando a originalidade do pensamento do autor. De José de Alencar a Caetano Veloso, de Eça de Queiroz a Sérgio Sant’Anna, trafegando ainda entre a biblioteca e o babado das ruas e da cultura popular de massa, parece até que nada escapa ao olhar agudo do consagrado ensaísta.

 

O breve fulgor do tempo (2019) – Autor: José Rodrigues Paiva; 307 páginas. A poesia de José Rodrigues de Paiva revela uma grande fixação no passado, incorporando até raízes mais antigas e profundas que o prendem a um passado remoto — que seus olhos não viram —, além de uma escrita focada em suas lembranças de infância na Várzea recifense, onde ele revisita cenas que viu, viveu ou imaginou. Numa permanente preocupação com o tempo, a poesia de Rodrigues de Paiva se pauta pela recordação, que é uma das dimensões da problemática existencial do homem.

 

Genealogia da ferocidade (2017); Autor: Silviano Santiago; 117 páginas Genealogia da Ferocidade volta a comprovar a potência da ensaística de Silviano Santiago. Ele aponta como a tradição crítica sempre esteve mais interessada em domesticar a monstruosidade da escrita rosiana do que em deixar-se seduzir pela originalidade da “beleza selvagem” de Grande Sertão: Veredas. O “monstro Rosa”é como Silviano Santigado descreve o grande escritor Guimarães Rosa (1908-1967), nascido em Minas Gerais, autor, também de clássicos como Sagarana, Corpo de Baile, Tutameia e Campo Geral. O ensaio inaugura o selo Suplemento Pernambuco, voltado a obras que pensam as relações entre literatura e o contemporâneo.

Viagem ao Brasil (1644-1654) – 2016. Autor: Peter Hansen Hajstrup, 130 páginas. Prato cheio para quem gosta de história. É um dos raros relatos de gente de baixa patente recrutada pela Companhia das Índias Ocidentais para servir em seu exército estacionado no Brasil, durante 24 anos de ocupação. Seu autor, Peter Hansen Hajstrup, é um jovem de origem camponesa proveniente da Dinamarca, tornado soldado, que descreve os estertores da presença holandesa em Pernambuco, entre 1644 e 1654, num relato de violência e miséria.

Nos links abaixo, confira informações  mais detalhadas sobre estes e alguns outros livros da Cepe.

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Texto: Letícia Lins / #OxeRecife
Fotos: Divulgação / Cepe 

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